quarta-feira, 16 de julho de 2008

SÃO PAULO APÓSTOLO EM ÉFESO

“Certo Demétrio, que era ourives, era fabricante de nichos de Ártemis, em prata, proporcionando aos artesãos não pouco lucro. Tendo-os reunido, bem como a outros que trabalhavam no mesmo ramo, disse: “Amigos, sabeis que é deste ganho que provém o nosso bem-estar”. Entretanto, vedes e ouvis que não somente em Éfeso, mas em quase toda a Ásia, este Paulo tem desencaminhado, com suas persuasões, uma multidão considerável: pois diz que não são deuses os que são feitos por mãos humanas. Isto não só traz o perigo de a nossa profissão cair em descrédito, mas também o próprio templo da grande deusa Ártemis perderá todo o seu prestígio, sendo logo despojada de sua majestade aquela que toda a Ásia e o mundo veneram” (At 19, 24-27).
O grande Apóstolo dos Gentios, começou por Éfeso sua terceira viagem apostólica, pois pareceu-lhe ser este o cruzamento das estradas por onde as igrejas do Ocidente se juntariam às da Ásia. Éfeso era o centro do encanto asiático, o paraíso das delícias e dos vícios do Oriente. O templo de Ártemis atraía multidões de peregrinos. Éfeso era um centro que atraía a si toda espécie de charlatões, que seduziam o povo sempre ávido de milagres e o falso maravilhoso.
Na cidade, o ocultismo e a micromancia tinham muitos partidários.
Para desmascarar os falsos milagreiros e exorcistas, Deus usou o apóstolo São Paulo para realizar milagres extraordinários, de sorte que até os lenços e aventais que lhe haviam tocado o corpo, aplicado aos enfermos, faziam desaparecer deles as enfermidades e sair os espíritos malignos” (A 19, 11-17).
O resultado glorioso da pregação de São Paulo Apóstolo foi o seguinte: “O fato chegou ao conhecimento de todos os judeus e gregos que moram em Éfeso. A todos sobreveio o temor, e o nome do Senhor Jesus era engrandecido” (At 19, 17).
“Muitos dos que haviam abraçado a fé começaram a confessar e a declarar suas práticas. E grande número dos que haviam exercido a magia traziam seus livros e os queimavam à vista de todos” (At 19, 18).
O outro fruto da sua pregação foi minar o culto à deusa Ártemis, o que levou os fabricantes de ídolos da deusa a se amotinarem contra ele, e “toda a cidade encheu-lhe de confusão”, o que fez aí Apóstolo partir para a Macedônia (At 19, 28-31; At 20, 1) (1).
Ártemis era a deusa para os gregos e Diana para os romanos. Era a deusa da caça
e do parto. Em Éfeso, a deusa Ártemis tinha a fama de riqueza e de ser ela mesma fonte
de prosperidade.
PROVÍNCIA ROMANA DA ÁSIA
A Eurásia do século 11 a.C, foi marcada por tumultos e migrações. Foi nessa época que os gregos jônicos passaram a colonizar a costa oeste da Ásia Menor. Aqueles primeiros colonizadores tiveram contato com povos conhecidos como adoradores de uma deusa-mãe, divindade que mais tarde passou ser conhecida como Ártemis efésia.
Em meados do sétimo século a.C., cimerianos nômades vieram do Mar Negro, ao norte, para saquear a Ásia Menor. Mais tarde, por volta de 550 a.C.; subiu ao poder o Rei Creso, da Lídia, um poderosos governante famoso pela sua enorme riqueza. Com a expansão do Império Persa, o Rei Ciro subjugou as cidades jônicas, inclusive Éfeso.
Em 334 a.C., Alexandre da Macedônia iniciou a sua campanha contra a Pérsia, tornando-se assim o novo governante de Éfeso. Após a morte prematura de Alexandre, em 323 a.C., Éfeso ficou envolvida numa Pérgamo que não tinha filhos, deu Éfeso como herança para os romanos, tornando-a parte da província romana da Ásia.
O FRACASSO DA IDOLATRIA
Quando o apóstolo Paulo foi a Éfeso, perto do fim da sua segunda viagem missionária no primeiro século d.C., a cidade tinha uns 300 mil habitantes. (At 18,19-21) Durante a sua terceira viagem missionária, Paulo voltou a Éfeso, e com ainda mais coragem falou na sinagoga a respeito do Reino de Deus. No entanto, depois de três meses, a oposição dos judeus se intensificou, e Paulo decidiu fazer os seus discursos diários no auditório da escola de Tirano. (At 19,1,8,9) A sua atividade de pregação continuou por dois anos, acompanhada por obras extraordinárias de poder, tais como curas milagrosas e a expulsão de demônios. (At 19,10-17) Não é de admirar que muitos tenham se tornado crentes! Sim, a Palavra de Deus prevaleceu, de modo que um grande número de ex-praticantes das artes mágicas queimaram voluntariamente seus valiosos livros. (At 19,19,20).
A pregação bem-sucedida de Paulo não só levou muitas pessoas a abandonar a adoração da deusa Ártemis, mas também enfureceu os que promoviam tal adoração pagã. A fabricação de santuários de prata para Ártemis era um negocio lucrativo. Sentindo que sua profissão estava sendo ameaçada, certo Demétrio instigou os prateiros a se revoltar. (At 19,23-32).
O confronto atingiu o auge quando a multidão gritou histericamente por quase duas horas: “Grande é a Ártemis, dos efésios!” (At 19,34) Depois que o distúrbio acalmou, Paulo encorajou seus irmãos cristãos mais uma vez e seguiu viagem. (At 20, 1) O culto a Ártemis estava condenado ao fracasso.
O TEMPLO DE ÁRTEMIS É DESTRUÍDO
O culto a Ártemis estava profundamente arraigado em Éfeso. Antes da época do Rei Creso, a deusa-mãe Cibele era a personagem central na vida religiosa daquela região. Por inventar um vínculo de família entre Cibele e os deuses gregos, o Rei Creso esperava criar uma personagem religiosa que tanto os gregos como os que não eram gregos aceitassem. Com o apoio dele, em meados do sexto século a.C., começou a obra no templo da sucessora de Cibebe, Ártemis.
O templo foi um marco na história da arquitetura grega. Nunca se haviam usado blocos de mármore tão grandes para construir um monumento daquele tipo e tamanho. Um incêndio destruiu o templo em 356 a.C. Ele foi reconstruído de forma igualmente magnífica, gerando muitos empregos e tornando-se uma grande atração para peregrinos. Construído numa plataforma de 73 metros de largura por 127 metros de comprimento, o novo templo tinha aproximadamente 50 metros de largura e 105 metros de comprimento. Era considerado uma das sete maravilhas do mundo. No entanto, nem todos se sentiam felizes com ele. O filósofo Herácito de Éfeso comparou o corredor escuro de acesso ao altar com a escuridão da depravação, e considerou a moral no templo pior do que a de animais . Para a maioria, porém, parecia que o santuário de Ártemis em Éfeso nunca entraria em declínio. A história mostrou o contrário. O livro Ephesos — Der neue Führer (Éfeso — O Novo Guia) declara: “Por volta do segundo século, a adoração de Ártemis e de outras deidades estabelecidas do panteão diminuiu rapidamente”.
No terceiro século d.C., Éfeso foi sacudida por um grave terremoto. Além disso, as riquezas impressionantes do templo de Ártemis foram roubadas por navegantes godos, procedentes do Mar Negro, que queimaram então o templo. O livro mencionado acima diz: “derrotada, e incapaz de proteger a sua própria moradia, como podia Ártemis continuar a ser considerada protetora da cidade?”
Finalmente, perto de fim do quarto século d.C., o imperador Teodósio I confirmou o cristianismo como a religião do Estado. Pouco depois, a enorme construção de pedra que fora uma vez o famoso templo de Ártemis tornou-se um lugar de onde se extraía material de construção. A adoração de Ártemis perdeu o todo o prestígio. Um observador anônimo comentou uma epigrama que exaltava o templo como uma maravilha do mundo antigo: “Agora é um lugar absolutamente desolado e desprezível.”
Após o declínio da adoração de Ártemis veio a queda de Éfeso. Terremotos, malária e o assoreamento do porto tornaram a vida na cidade ainda mais difícil.
No sétimo século d.C., o islamismo havia começado a se expandir muito, e não se limitou a unificar tribos árabes sob a sua ideologia. Frotas árabes saquearam Éfeso durante o sétimo e o oitavo século d.C. O destino de Éfeso foi selado uma vez para sempre quando o porto foi completamente assoreado e a cidade se tornou um monte de ruínas. Daquela magnífica metrópole restou apenas um pequeno povoado chamado Aya Soluk (agora Selçuk) (3).

O erudito sacerdote, professor e escritor alemão, autor da obra clássica Paulo de Tarso, Josef Holzner escreve: “Ninguém ainda suspeitava que aquele homem de aparência insignificante, que hoje entrava em Éfeso, viria a derrubar o trono dessa Diana depois de um reinado de mais de mil anos, e faria surgir um novo dia cujo resplendor acabaria por dissipar todas as mascaradas e fraudes dos sacerdotes eunucos como a neblina se dissipa ao nascer do sol. Toda essa magnificência pagã desapareceu de maneira tão radical, num espaço de tempo tão curto, que os arqueólogos ingleses tiveram de utilizar bombas de sucção para resgatar uns poucos fragmentos do antigo templo, situados abaixo do nível do lençol freático. Uma única pedra do templo ficou no seu lugar, e uma coluna se conserva hoje no Museu Britânico”.
PAULO E TIMÓTEO
“Paulo atravessou a Síria e a Cilícia, confirmando as igrejas. Alcançou em seguida Derbe, depois Listra. Ora, havia lá um discípulo chamado Timóteo, filho de uma mulher judia, que abraçara a fé, e de pai grego. Dele davam bom testemunho os irmãos de Listra e de Icônios”. (At 15,41; 16,1.2).
Paulo tinha Timóteo como seu verdadeiro filho na fé (1 Tm 1,2). Paulo deixa Timóteo como bispo em Éfeso, quando estava de viagm para a Macedônia (1 Tm 1,3). Desta cidade Paulo escreve a primeira carta a Timóteo e a segunda quando ele se encontrava preso em Roma (2Tm 1,8.16; 2,9). Desta prisão, tudo sugere que Paulo escreve a Carta aos efésios (Ef 3,1;6,20).
Timóteo foi escolhido por Deus como um verdadeiro discípulo de Paulo: “Espero, no Senhor Jesus, enviar - vós logo Timóteo, para que eu tenha também a alegria de receber notícias vossas. Quanto a ele, vós sabeis que prova deu: como um filho ao lado do pai, ele serviu comigo à causa do evangelho” (Fl 2, 19-22).
Da prisão Paulo escreva a Timóteo: “Procura vir me encontrar o mais depressa possível. Procura vir antes do inverno e pede para trazer o manto e os livros” (2 Tm 4, 13.21).
Timóteo seguiu fielmente o seu mestre a Corinto, Éfeso, Jerusalém e até a prisão em Roma.
O jovem discípulo Timóteo aprendeu muito com o ínclito mestre das missões, principalmente no tocante ao poder espiritual.
Timóteo conheceu e presenciou a graça do Espírito Santo em Apolo – O Pregador eloqüente em Eféso – ( At 18,24-28), a descida dos dons de línguas e profecia nos doze varões de Éfeso pela imposição das mãos do apóstolo Paulo (At 19,1-7).
Ele mesmo experimentou a virtude celestial pela imposição do seu pai na fé (1 Tm 4,14;2 Tm 1,6.7).
CONCLUSÃO
A missão do grande evangelizador de Cristo crucificado e ressuscitado São Paulo Apóstolo, nos ensina duas coisas na cidade de Éfeso: “A primeira é que a Boa Nova de Jesus de Nazaré deve ser pregado em todo lugar e ocasião e a segunda é que a verdade cristã e o culto verdadeiro ao Senhor Deus, derrubam a mentira, a idolatria e os falsos líderes religiosos que ganham enganando as pessoas com a falsa adoração”.
São Paulo Apóstolo realizou uma obra missionária monumental na História da Igreja jamais visto.
Até hoje continua sendo o maior missionário de todos os tempos.
Seu trabalho apostólico foi colossal para Igreja de Cristo e para salvação da humanidade. E tudo isso se comprova pela sua definição e determinação de amor ao seu Senhor e Salvador Jesus Cristo e ao gênero humano.



Pe. Inácio Jose do Vale
Pároco da Paróquia São Paulo Apóstolo
Professor de História da Igreja
Faculdade de Teologia de Volta Redonda
e-mail: pe.inaciojose.osbm@hotmail.com

terça-feira, 8 de julho de 2008