sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Eu conservo a MISSA TRADICIONAL

Declaração do Reverendíssimo Pe. Calmel, OP

Eu conservo a MISSA TRADICIONAL, aquela que foi codificada, não fabricada, por São Pio V. no século XVI, conforme um costume multissecular. Eu recuso, portanto, o ORDO MISSAE de Paulo VI.

Por quê? Porque na realidade, este Ordo Missae não existe. O que existe é uma Revolução litúrgica universal e permanente, patrocinada ou desejada pelo Papa atual, e que se reveste, momentaneamente, da máscara de Ordo Missae de 3 de abril de 1969. É direito de todo e qualquer padre recusar-se a vestir a máscara desta Revolução litúrgica. Julgo ser meu dever de padre recusar celebrar a Missa num rito equívoco.

Se aceitarmos este rito, que favorece a confusão entre a Missa católica e a Ceia protestante — como o dizem de maneira equivalente dois cardeais e como o demonstram sólidas análises teológicas — então cairemos sem tardar de uma Missa ambivalente (como de fato o reconhece um pastor protestante) numa missa totalmente herética e, portanto, nula. Iniciada pelo Papa, depois abandonada por ele às igrejas nacionais, a reforma revolucionária da Missa seguirá sua marcha acelerada para o precipício. Como aceitar ser cúmplice?

Perguntar-me-iam: Mantendo a Missa de sempre, em oposição a todos e contra todos, o senhor refletiu a que se expõe? Sim. Eu me exponho, se assim posso dizer, a perseverar no caminho da fidelidade a meu sacerdócio, e, portanto, prestar ao Sumo Sacerdote, nosso Supremo Juiz, o humilde testemunho de meu oficio de padre. Exponho-me a dar segurança aos fiéis desamparados, tentados de cepticismo ou de desespero. De fato, todo e qualquer padre que conserve o rito da Missa codificado por São Pio V, o grande Papa dominicano da Contra-reforma, permitirá aos fiéis participar do Santo Sacrifício sem equívoco possível; comungar, sem risco de ser enganado, o Verbo de Deus Encarnado e imolado, tornado realmente presente sob as sagradas espécies. Aliás, o padre que se submete ao novo rito, inteiramente forjado por Paulo VI, colabora, de sua parte, para instaurar progressivamente urna Missa falsa, em que a presença de Cristo já não será real, mas transformada num memorial vazio; e por isso mesmo o Sacrifício da Cruz já não será real e sacramentalmente oferecido a Deus; enfim, a comunhão não passará de uma ceia religiosa em que se comerá um pouco de pão e se beberá um pouco de vinho; nada mais do que isso; como entre os protestantes.

Não consentir em colaborar para a instauração revolucionária de uma missa equívoca, orientada para a destruição da Missa, será entregar-se a certas desventuras temporais, e certas desgraças neste mundo? O Senhor o sabe, e Sua graça basta. Na verdade, a graça do Coração de Jesus, que chega até nós pelo Santo Sacrifício e pelos Sacramentos, sempre é suficiente. É por isso que Nosso Senhor nos diz tão tranqüilamente: "Aquele que perder a sua vida neste mundo por minha causa, salva-la-á na vida eterna”.

Reconheço sem nenhuma hesitação a autoridade do Santo Padre. Afirmo, no entanto, que qualquer Papa, no exercício de sua autoridade, pode cometer abusos de autoridade. Sustento que Paulo VI comete um abuso de autoridade de gravidade excepcional quando constrói um rito novo da Missa baseado numa definição de Missa que deixou de ser católica. “A Missa”, escreve ele em seu Ordo Missae, “é a reunião do povo de Deus, presidida por um sacerdote, para celebrar o memorial do Senhor”. Esta definição insidiosa omite propositadamente aquilo que faz católica a Missa católica, sempre irredutível à ceia protestante. Porque na Missa católica não se trata de um memorial qualquer, o memorial é de tal natureza, que contém realmente o Sacrifício da Cruz, porque o Corpo e o Sangue de Cristo se tornam realmente presentes por virtude da dupla consagração. Isto aparece, de modo a não permitir engano, no rito codificado por São Pio V; mas aparece flutuante e equívoco no rito fabricado por Paulo VI.

Da mesma maneira, na Missa católica o padre não exerce uma simples presidência; marcado com um caráter divino que o põe à parte por toda a eternidade, ele é o ministro de Cristo que, por si mesmo, realiza a Missa; é inadmissível que o padre seja assemelhado a um pastor qualquer, delegado dos fiéis para liderar sua assembléia. O que é perfeitamente evidente no rito da Missa ordenado por São Pio V torna-se dissimulado, senão escamoteado, no novo rito.

Portanto, não só a simples honestidade mas infinitamente mais: a honra sacerdotal, exigem de mim não ter a impudência de traficar a Missa católica, recebida no dia de minha ordenação. E porque se trata de ser leal, e principalmente em matéria de gravidade divina, não há autoridade no mundo, ainda que seja a autoridade pontifícia, que mo possa impedir.
Outrossim, a primeira prova de fidelidade e de amor que o padre deve dar a Deus e aos homens é guardar intacto o depósito infinitamente precioso que lhe foi confiado quando o bispo lhe impôs as mãos. É primeiramente sobre esta prova de fidelidade e de amor que serei julgado pelo Supremo Juiz.

Espero, com toda a confiança, da Virgem Maria, Mãe do Sumo Sacerdote, que me conceda permanecer fiel até à morte à Missa católica, verdadeira e sem equívoco.

Tuus sum ego, salvum me fac.
Pe. R.-TH. Calmel, O.P.

fonte : fsspx

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Segundo o Concílio de Trento – Missa de S. Pio V - a MISSA é a renovação incruenta do Sacrifício do Calvário, oferecida a Deus por um sacerdote em nome dos fiéis, e que, ao pronunciar as palavras da Consagração, ‘empresta’ a sua voz a Nosso Senhor (o faz na PESSOA DE CRISTO - “IN PERSONA CHRISTI”). Na realidade, é CRISTO NOSSO SENHOR e ÚNICO SACEDOTE que celebra a Missa, pois só Ele pode dizer “ISTO É O MEU CORPO.... ISTO É O MEU SANGUE”. Daí resulta que a Missa de S. Pio V é celebrada sobre um ALTAR (próprio para “SACRIFÍCIO” a Deus), por um sacerdote, voltado para Deus e de costas para o POVO, ou seja, o sacerdote, representando o povo diante de Deus, fala voltado a Deus, dando as costas aos seus representados... não tem cabimento um representante de um grupo qualquer dirigir-se a um superior voltado ao próprio grupo, dando as costas ao superior!.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Muçulmana abraça fé católica junto a capelão do exército americano no Iraque

Uma mulher muçulmana está cada dia mais perto de converter-se ao catolicismo da mão do Pe. Jose Bautista-Rojas, capelão dos fuzileiros navais católicos dos Estados Unidos na região de conflito no Iraque. Um correspondente da agência Catholic News Agency (CNA) narrou a comovedora história da zona de guerra.

"Enquanto trabalhava com os americanos, esta mulher, que deve ficar no anonimato, sentiu-se questionada no mais profundo ao ver que o pessoal médico dos Estados Unidos não só cuidava de seus compatriotas e aos civis iraquianos feridos mas também aos do grupo inimigo cansados em combate, inclusive alguns que tinham assassinado um fuzileiro naval", escreve Joe Burns do CNA."

A grande compaixão mostrada inclusive com os soldados inimigos levou a mulher ao seguinte passo. Pediu-lhe ao Padre Bautista-Rojas que lhe ‘contasse mais sobre Jesus’. Ao conhecer o Evangelho, a mulher islâmica a quem o sacerdote chamou ‘Fátima’ (que não é seu nome real), chamou-lhe muito a atenção o tratamento de Jesus com ‘as duas Marias’. Fátima se questionou por ver como Jesus ama profundamente a Maria, sua mãe, Imaculada, e como amava também com profundidade a Maria Madalena, ‘a grande pecadora’. Neste diálogo Fátima lhe disse ao Pe. Bautista-Rojas: ‘quero ser cristã".

O sacerdote então lhe pediu para ver outros capelães cristãos. Logo depois de um tempo, escreve Burns do CNA, Fátima voltou a procurar o Pe. Bautista-Rojas e lhe disse: "Quero ser católica como você". Ao perguntar o sacerdote por que tinha elegido o catolicismo, ela respondeu. "você foi o único que me falou dos outros cristãos, assim me deu liberdade para escolher. Assim soube que esta era a decisão correta".

Em que pese a ter sido ameaçada por seu pai sendo deserdada e não voltar a ver sua família nunca mais, Fátima não duvidou em sua opção. Com cautela, o Pe. Bautista-Rojas lhe pediu que reconsiderasse a decisão que estava tomando.

"Fátima –escreve Burns– fez uma pausa por um momento e olhando ao Padre Bautista-Rojas lhe perguntou: ‘Tão rápido se dá por vencido com Jesus?’ A pergunta golpeou ao sacerdote e em seguida pensou: ‘Isto é incrível, esta mulher muçulmana já está dando testemunho sobre quão importante é minha fé!"

Fonte: ACI
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"Que vos parece? Um homem possui cem ovelhas: uma delas se desgarra. Não deixa ele as noventa e nove na montanha, para ir buscar aquela que se desgarrou?" (Mt 18,12)

"Tenho ainda outras ovelhas que não são deste aprisco. Preciso conduzi-las também, e ouvirão a minha voz e haverá um só rebanho e um só pastor". (Jo 10,16)

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Cantos da Santa Missa



(clica no nome das músicas para ouvir)


Latin Ad ritus initiales




-Signum crucis In nomine Patris, ou tonus simples




-Formula salutationis Gratia Domini, ou Gratia vobis, ou Dominus vobiscum (simples), ou Dominus vobiscum





Ad ritum paenitentialem







-Kyrie XVI, ou outras configurações do Kyriale Romanum



-Post collectam (qui tecum vivit) , (qui vivis) ;



-Post collectam sollemnis (qui tecum vivit) , (qui vivis)




Ad liturgiam Verbi




-Tonus simples A, B, tonus sollemnis






















-Evangelium Tonus A , B , C






-Oratio fidelium (Credo) - A , B , C , D , E






-Post alias orationes A , B




Ad liturgiam eucharisticam






-Praefatio - tonus simplex , sollemnis





-Prex eucharistica I , I (solemn) , II , III , IV







-Pater noster A , B , C













-Agnus Dei or other setting from the Kyriale








Ad ritus conclusionis













tonus solemmnis



Depois da Missa












Voz e direitos autorais pertencem a Fr. Christopher J. Pollard, Front Royal, Virginia.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Missa de Sempre

“O monte Calvário é o monte dos amantes. Todo o amor que não tiver por origem a Paixão do Salvador é frívolo e perigoso” (São Francisco de Sales, Tratado do Amor de Deus, Livro XII, Capítulo XIII).

E enquanto o Padre não compreender que a sua razão de ser é o Sacrifício, que a sua Ordenação o ordena ao sacrifício, e Sacrifício de Nosso Senhor na Cruz, o padre não saberá, verdadeiramente, o que é, quem é. O Padre sem Missa, sem Sacrifício, é um olho sem visão, uma orelha que não houve, pés que não andam.(Monsenhor Fellay)

Que o amor à Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo esteja em vossa alma.

sábado, 1 de dezembro de 2007

Sete Pastores Luteranos voltam-se ao Catolicismo

Sete Pastores Luteranos voltam-se ao Catolicismo depois de retiros inacianos da SSPX.TALLINN (REVAL, Estônia) – De 6 a 11 de novembro Pe. Karl Stehlin, sacerdote da Sociedade Pio X baseado em Varsóvia, pregou os Exercícios Inacianos para sete pastores luteranos a pedido dos mesmos. Durante esses dias ele foi permitido celebrar a Santa Missa em uma das mais antigas igrejas da Estônia, que foi construída há 790 anos atrás.

Foram dias de muitas graças, segundo expressaram posteriormente todos os participantes. Os pastores luteranos ficaram particularmente impressionados pela forma profunda e meditativa que Santo Inácio de Loyola ensina a contemplação da vida de Jesus pela Sagrada Escritura. Um dos sete luteranos participante disse que finalmente compreendeu durante os exercícios inacianos como ler a Bíblia de forma compreensiva e meditativa. Um outro disse: “Eu descobri Maria!” Todos rezaram com muita alegria o Santo Rosário todos os dias. Os pastores também querem chamar a atenção de seus próprios fiéis para o Rosário.

Acima de tudo, os participantes elogiaram a lógica miraculosa, a unidade e harmonia da fé Católica Romana, que brilhou radiantemente durante os exercícios. Rezemos, nós Católicos, que esse retiro inaciano traga ricos frutos, que muitas pessoas da Estônia sejam trazidas para a verdade eterna de nossa santa Fé Católica. (FSSPX na Alemanha).

fonte-Le forum catholique

Pastor luterano abandona sua igreja para se dedicar a Igreja Católica

O pastor luterano Sten Sandmark, da Igreja de Oskarshamn localizada na costa leste da Suécia e frontal a pitoresca Ilha de Gothland, transmitiu verbalmente através dos meios de comunicação suecos e alemães, sua decisão de abandonar a igreja luterana para se “dedicar” exclusivamente a Igreja una, santa, católica e apostólica. O pastor Sten, vem empreendendo há quase 1 (uma) década um caminho espiritual em busca da verdade à respeito da Igreja Católica. As autoridades locais, especialmente o bispo de Estocolmo – o único bispo católico da Suécia –, o havia recebido com certas reservas, lhe explicando inclusive de uma marcha conjunta das igrejas irmãs, com relação ao Cristo universal. Segundo o pastor, o rito atual moderno da missa e a teologia contemporânea, o levaram a tomar uma decisão. “Não podia afastar-se do luteranismo para o encontrar em outra parte” (isto é, dentro da moderna Igreja Católica), declarou esta frase nas redes de televisão e na imprensa.

Em busca da verdadeira Igreja Católica, o rito sagrado da antiga Missa, a adoração ao Santíssimo Sacramento, a veneração da Santíssima Virgem Maria, a teologia tomista, em resumo, tudo quanto foi rechaçado pelo dedicado Lutero e, mais recentemente, pela Igreja (Católica) conciliar. Espero pelo dia em que, face à necessidade de uma peregrinação a UNEC (União dos Países componentes da Europa Católica), o pastor Sandmark falou em sua própria igreja de Oskarshamn aquilo que busca ardentemente: a Santa Missa de sempre (Missa Tridentina). Se comoveu até as lágrimas. A cerimônia oficial do pastor em sua paróquia teve lugar domingo passado dia 30 de julho, no decorrer de uma Missa solene na igreja de San Nicolas Del Chardonnet.

A situação da igreja luterana na Suécia – que são poucas no estado sueco – se encontra cada vez mais tensa. Em outubro de 2005 foi autorizado matrimônio litúrgico entre casais homossexuais. Por outro lado a conduta moral e pública de bispos e “bispas” protestantes são cada vez mais escandalosas (muito dos bispos luteranos da Suécia são mulheres, e diversas delas se dizem lésbicas; um dos bispos de Visby de Gotland, se casou 3 vezes, etc.).

“Tudo isso me obrigou moralmente a sair de uma estrutura na qual não podia aparecer mais como um dos responsáveis”. Sten Sandmark se afasta da igreja luterana para encontrar a fé católica “na sua integridade”, e sobretudo “para salvar a minha alma”. E insiste: “Queremos voltar a partir do ponto de onde Lutero havia desertado, retornando ao caminho deste ponto”.

A seu modo de ver muitas paróquias do país haviam seguido os católicos, até com muitos detalhes litúrgicos no conteúdo da igreja luterana da Suécia, onde a “conversão” ao protestantismo no século XVI (16) havia se tornado assunto político e econômico nas esferas do poder. Após sua declaração, o pastor Sten deseja iniciar estudos no seminário da Fraternidade São Pio X (segue a linha tradicional, fundada por Dom Marcel Lefebvre) a fim de se converter em sacerdote católico e assim poder trabalhar na Suécia, começando por celebrar “a Missa de sempre” (Missa Tradicional)

Que Santa Brígida, padroeira da Suécia e co-padroeira da Europa Cristã, o acompanhe em sua valente jornada e em seu futuro apostolado! (Padre Xavier Beauvais)

Da Revista: Iesus Christus – n° 5 Mayo/Junio - 2006

Mas reservarei em Israel sete mil homens, que não dobrarão os joelhos diante de Baal...” (I Reis 19, 18)

Uso do latim na liturgia

Alguns textos do Magistério sobre o uso do latim na liturgia:

"A Língua Latina é a língua própria da Igreja Romana" (Papa São Pio X, Encíclica Inter Pastoralis Officii).

"O uso da Língua Latina é um claro e nobre indício de unidade e um eficaz antídoto contra todas as corruptelas da pura doutrina." (Papa Pio XII, Encíclica Mediator Dei, nº 53)

"Que o antigo uso da Língua Latina seja mantido, e onde houver caído quase em abandono, seja absolutamente restabelecido. – Ninguém por afã de novidade escreva contra o uso da Língua Latina nos sagrados ritos da Liturgia." (Papa João XXIII, Encíclica Veterum Sapientia).

"Deve conservar-se o uso do latim nos ritos latinos, salvo o direito particular." (Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Sacrosanctum Concilium, nº 36, § 1)

"Providencie-se que os fiéis possam juntamente rezar ou cantar em Língua Latina as partes do Ordinário que lhes competem." (Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Sacrosanctum Concilium, nº 54)

"Faça-se a celebração eucarística em língua latina ou outra língua, contanto que os textos litúrgicos tenham sido legitimamente aprovados." (Código de Direito Canônico, Cân. 928)

"Missa se celebre quer em língua latina ou quer noutra língua, contanto que se usem textos litúrgicos que têm sido aprovados, de acordo com as normas do direito. Excetuadas as Celebrações da Missa que, de acordo com as horas e os momentos, a autoridade eclesiástica estabelece que se façam na língua do povo, sempre e em qualquer lugar é lícito aos sacerdotes celebrar o santo Sacrifício em latim." (Instrução Redemptionis Sacramentum, nº 112)

"O que acabo de afirmar não deve, porém, ofuscar o valor destas grandes liturgias; penso neste momento, em particular, às celebrações que têm lugar durante encontros internacionais, cada vez mais frequentes hoje, e que devem justamente ser valorizadas. A fim de exprimir melhor a unidade e a universalidade da Igreja, quero recomendar o que foi sugerido pelo Sínodo dos Bispos, em sintonia com as directrizes do Concílio Vaticano II: exceptuando as leituras, a homilia e a oração dos fiéis, é bom que tais celebrações sejam em língua latina; sejam igualmente recitadas em latim as orações mais conhecidas da tradição da Igreja e, eventualmente, entoadas algumas partes em canto gregoriano. A nível geral, peço que os futuros sacerdotes sejam preparados, desde o tempo do seminário, para compreender e celebrar a Santa Missa em latim, bem como para usar textos latinos e entoar o canto gregoriano; nem se transcure a possibilidade de formar os próprios fiéis para saberem, em latim, as orações mais comuns e cantarem, em gregoriano, determinadas partes da liturgia" (Papa Bento XVI, Exortação Apostólica Pós-Sinodal Sacramentum Caritatis, nº 62).

"Se alguém disser que o rito da Igreja Romana (...) só se deve celebrar a Missa em língua corrente [vernácula](...), seja excomungado" (Concílio de Trento, Cânones sobre o Santíssimo Sacrifício da Missa, cânon 9).

As palavras do Papa João Paulo II em sua belíssima Encíclia Ecclesia de Eucharistia, § 9:"Como não admirar as exposições doutrinais dos decretos sobre a Santíssima Eucaristia e sobre o Santo Sacrifício da Missa promulgados pelo Concílio de Trento? Aquelas páginas guiaram a teologia e a catequese nos séculos sucessivos, permanecendo ainda como ponto de referência dogmático para a incessante renovação e crescimento do povo de Deus na sua fé e amor à Eucaristia".

O Latim na liturgia I

Latim:Dicionário de latim
Pe. V.-A. Berto

Tantas razões e tão decisivas em favor da manutenção do latim como língua litúrgica na Igreja Ocidental, tão pobres e tão desastrosos os pretextos invocados em favor das línguas vulgares, que temos dificuldade de nos incumbirmos de examinar uma mera questão, sobre a qual não deveria existir senão uma opinião, não apenas entre os católicos, mas entre os civilizados. Certamente, não teríamos pensado em colocar esta questão do latim na liturgia, nem imaginado que alguém pudesse fazê-lo. Todavia, vemos que a colocam, recolocam, debatem e disputam. Sem provas propriamente ditas — mas com muitos indícios convergentes que equivalem a uma prova — temos o sentimento de estar em presença de homens muito determinados em seu empreendimento, decididos a aproveitar todas as ocasiões para suprimir o latim, para forçar a Santa Sé, para colocá-la, se puderem, perante um fato consumado, até o dia — para eles, desejável, para nós, nefasto (mas esse dia nunca virá) — em que a autoridade soberana, julgando a causa perdida, resolver-se a canonizar o emprego litúrgico das línguas vulgares.


Deduziremos por ordem nossos argumentos nesta “defesa e ilustração”, não do “latim litúrgico”, pois que não fazemos aqui absolutamente um estudo de gramática ou de estilo, mas do emprego da língua latina na liturgia.



"A religião católica é o sangue de nossas veias”, podemos dizê-lo tão sinceramente quanto o dizia Baumann, e nos é certamente difícil imaginar o que seríamos fora desta religião, única verdadeira. Contudo, estamos persuadidos de que, mesmo se não fôssemos sacerdotes ou mesmo católicos, a supressão do latim como língua litúrgica seria ainda, aos nossos olhos, uma catástrofe para a humanidade.


A multiplicidade das línguas é uma disposição providencial que a Sagrada Escritura apresenta como um castigo. Ora, no Antigo Testamento não há somente figuras diretas das realidades do Novo, mas também figuras inversas, e Babel é figura inversa de Pentecostes, donde se segue que nenhuma outra comunidade de língua se pode esperar para o gênero humano senão a que procede da Igreja. Não no sentido de que a Igreja deva se esforçar para fazer desaparecer a diversidade de línguas vulgares, pois todas podem levar sua mensagem e, como diz Santo Agostinho: “todas as línguas nos pertence a nós, católicos, porque pertencemos ao corpo que as fala todas”; não mesmo no sentido de que a Igreja tenha a obrigação de superpor às outras línguas uma língua litúrgica comum, mas no sentido de que, de fato e como por acréscimo, se a Igreja escolhe uma língua para sua oração oficial, à difusão da Igreja naturalmente corresponderá a difusão desta língua, que será, desde então, sinal e fator de uma unidade humana que jamais será perfeita em sua ordem, pois somente a Igreja em si mesma é perfeitamente una cá embaixo, mas que, não obstante, tão imperfeita quanto possa ser, é um valor infinitamente precioso de civilização.


No momento presente, todos homens cultos têm, quer mais quer menos, algum conhecimento de latim[1]. Isso não é suficiente para que se entendam! Mas enfim, já é alguma coisa, por menor que seja, que têm em comum e, suprimido o latim, teriam algo a menos em comum.


Ora, se excetuarmos os professores de letras e alguns amadores, que ocasião teriam os homens cultos dos quais falamos de exercer seu conhecimento de latim? Nenhuma ou quase nenhuma, se não são católicos; mas se são católicos, devem se utilizar de uma tradução durante os ofícios; ora, há em todo o mundo algumas dezenas de milhões de católicos cultos! Deixemos de lado, no momento, o laço que isto estabelece entre eles como católicos, voltaremos a isto depois; o latim sempre os aproxima um pouco enquanto homens cultos. Se é necessário manter e reforçar aquilo que os aproxima, deve-se portanto conservar, como um bem inestimável, o emprego litúrgico do latim.


Não se instituirá uma língua universal por esta razão sobrenatural de ter existido Babel, pois os homens não cessam de querer construir Babel, quer dizer, de tentar se unir fora da Igreja, e Deus não cessa de destruir seu trabalho, querendo que não busquem a unidade senão na Igreja. Não se instituirá uma língua universal pela razão natural de que então não seria preciso instituir, mas fabricar uma língua, e uma língua não se fabrica; não seria preciso, fosse ela fabricada, introduzi-la, mas impingi-la, e não se impinge uma língua. Mas há uma língua, e é precisamente o latim, que quase exclusivamente até o final do século XVII, e muito consideravelmente até o início do nosso, por ser a língua supranacional da Igreja, a língua internacional das elites intelectuais. Não sabemos se este costume de escrever os trabalhos científicos em latim reviverá; porém, muito certamente era um costume bom, polido, honesto, cortês, cômodo aos estudiosos, altamente humano. A supressão do latim destruiria de vez o pouco que restava. Chamaremos a isso progresso?


Não queremos dizer que o latim será jamais uma língua universal, no sentido em que a entendem os diversos criadores de esperantos (que entre si formam, ademais, uma pequena Babel suplementar, o que não é desprovido de ironia). O que dizemos é que ainda é uma língua, senão falada, ao menos conhecida e compreendida por grande parte das elites e com a qual, por toda a terra, o povo católico de rito romano tem alguma relação; que é um poderoso fator de unidade entre os homens; que o uso do latim na liturgia, que foi a causa principal de sua difusão, permanece sua principal garantia, e que só por este fato se faz necessário conservá-la.

De nada adianta dizer que o latim poderia se conservar como uma língua de comunicação erudita, que Leibniz era protestante e Espinoza judeu, Bergson e Boutroux agnósticos no tempo em que compunham suas teses secundárias, e que isto não impediu estes pensadores de escrever em latim. Isso é assim porque eles viviam sobre o tesouro da Igreja, acumulado durante séculos e tornado, pela generosidade da Igreja, bem comum da humanidade. Por outro lado, não devemos pensar apenas nos mandarins, a uma espécie de difusão horizontal do latim nas classes esclarecidas, o que não faria senão isolá-las ainda mais das classes inferiores. Escrevemos isso um dia após o Soberano Pontífice ter decretado, na presença de cento e cinqüenta mil trabalhadores manuais, a instituição da festa de São José Operário. Por mais que estejamos convencidos da necessidade das elites em uma sociedade bem ordenada, não consentimos que elas se transformem em uma casta; não cremos que ele possa ser indiferente a que um coração um pouco generoso como o do “homem da rua”, o mineiro ou o pescador, participe em alguma medida (medida esta que podemos sempre aumentar, como veremos) do uso do latim. Ora, desta difusão “vertical”, ela também unificadora, a liturgia é o único meio, absolutamente o único. E só por isso, ainda, trabalhar contra o latim na liturgia é trabalhar contra a civilização.



Suprimido o latim, os textos litúrgicos latinos e os cantos litúrgicos em latim tornam-se peças de museu, e não de um museu visitado pelo povo, nem mesmo de um museu acessível aos homens de cultura mediana, mas de um museu reservado a alguns iniciados e refinados. Dizemos: “nem mesmo de um museu acessível aos homens de cultura mediana”, pois estes, como nós já ressaltamos, só se lembram que rosa é rosa e templum é templo por causa da liturgia. Eliminado o latim da liturgia usual, todo o latim se perde para eles, e à perda de um elemento de unidade se acrescenta a não menos desastrosa perda de uma parte imensa, uma das mais belas, a mais bela segundo muitos dentre os quais nos incluímos, do patrimônio artístico do gênero humano. Do ponto de vista em que agora nos colocamos, o ódio antilatino é comparável ao furor iconoclasta. É como se, para libertar a estética cristã das formas do passado e dar ao século XX edifícios religiosos melhor adaptados à piedade, uma horda de adaptadores energúmenos pretendesse dinamitar Chartres, Reims e Paris, estes monumentos ultrapassados. O crime, na ordem literária e musical, equivaleria a tornar definitivamente inacessíveis a quase todos os cristãos (que ainda consideramos aqui enquanto homens e não, formalmente, enquanto cristãos) o Missal, o Gradual e o Antifonal romanos.


Seríamos intermináveis se empreendêssemos o elogio artístico destas maravilhas. Mas se beleza literária é a expressão sonora, abundante, em estilo lírico ou oratório, de uma idéia majestosa, é preciso dizer que nem Píndaro, nem Goethe, nem Shakespeare, nem Dante têm nada que supere, segundo nossa opinião (e não estamos sós), nada que alcance o Prefácio da Consagração das Virgens, o Exsultet da Vigília Pascal, o Stabat da Paixão, o hino de Natal ou o Decora lux com a estrofe que tira lágrimas dos olhos: “O Roma felix”. Comparamos picos com picos e, naturalmente, só nos ocupamos do que foi composto em latim, deixando de lado os textos da Sagrada Escritura, que são uma tradução, ainda que esta tradução, filologicamente discutível, seja, do ponto de vista literário, uma obra-prima. Em uma ordem menos sublime, podemos tomar quase ao acaso as orações do Missal (exceção feita, o que não é por acaso, às mais modernas), os exorcismos e as bênçãos do Ritual: a beleza literária está por toda parte; por toda parte a poesia, as palavras que, por seu sentido e som conjuntos, imediatamente suscitam, como se diz depois de Péguy, o “clima” do mistério celebrado; por toda parte o achado poético, nobre ou suave; em nenhuma parte o despropósito, a ostentação, a ênfase, a obscuridade, a tortura refinada da língua; mas na luz da aurora — Aurora coelum purpurat — ou do meio-dia — ignibus meridiem — ou do crepúsculo — Te lucis ante terminum — evocada por gênios desconhecidos de coração absolutamente simples, tudo se exprime com gênio e simplicidade. “Jesus Cristo disse coisas tão grandes de modo tão simples, que parece que as falou sem pensar, mas, contudo, falou de modo tão claro, que bem compreendemos o que delas pensava; esta união de claridade e singeleza é admirável.” Este pensamento de Pascal, ele mesmo admirável, se aplica a toda página dos livros litúrgicos latinos.

Há um exorcismo contra os ratos (infelizmente, temos ocasiões demais de celebrá-lo) que é uma pura jóia de poesia franciscana, onde se ordena a estes animais, em nome do Senhor que os criou, de se retirarem, porém, se ordena com uma tal cortesia, com uma delicadeza tal, que eles não poderiam realmente ficar insensíveis. E se retirarem para onde? Não se diz. Talvez para a casa do vizinho, mas isso é com ele, que, assim, também chamará um exorcista, e os ratos terminarão indo para o campo. Nada falta a este poema perfeito em dez linhas, nem mesmo este véu de graciosa ironia, que lembra Banville: si parva licet componere magnis.



É tudo? Não é nem sequer a metade. Em sua maioria, estes textos ou foram compostos para uma melodia preexistente, ou resultaram na composição de um canto. Em música, os músicos têm competência, como os pintores em pintura, os escultores em escultura e os arquitetos em arquitetura. Ora, desde a sábia e paciente restituição das melodias rítmicas gregorianas pelos beneditinos, isolados e combatidos no início, depois apoiados e encorajados por São Pio X, não há mais um único músico que conteste o valor artístico do canto litúrgico. Seguramente, trata-se de arte religiosa; porém, faz parte da arte que a expressão corresponda a um fim; pode-se ser um pintor muito profano e reconhecer o valor dos afrescos de Fra Angélico como pintura religiosa; pode-se ser muçulmano ou budista e não ter construído senão galpões, e admirar a cúpula de São Pedro ou de St. Trophime de Arles como obras-primas da arquitetura religiosa cristã. Uma semelhante unanimidade se fez, e de modo definitivo, entre os músicos, no que se refere ao canto gregoriano. Ninguém pensa realmente que a oração cristã litúrgica poderia encontrar expressão musicalmente mais bela.


Na comunhão Vidimus stellam da Epifania, após a modulação inicial em menor em Vidimus — uma subida um tanto atrasada pelo salicus, uma descida em duas ternárias lá-sol-lá sol-fá-sol, leves como se de cristal, um passo suspenso mi-fá-ré, atenuado pelo som latino do u — explode uma extraordinária terça maior sol-si em stellam, que se poderia atribuir a algum Wagner, mil anos mais antigo que o outro, e que pode considerar-se seu igual.


Damos este exemplo, e damos apenas um para não dar cem. Ademais a análise melódica e rítmica de um trecho será sempre um privilégio, e nós consideramos aqui apenas o que em arte é ou pode ser, para muitos, fonte da emoção estética. Os antigos já diziam: “o belo é o que, ao se ver, agrada”, pulchrum est quod visum placet, definição menos complicada que a de Kant, e na qual basta mudar uma palavra para que convenha ao belo musical: pulchrum est quod auditum placet: o belo é o que, ao se escutar, agrada; algo cuja audição agrada. Sempre haverá pessoas (o que de todo coração lamentamos) que jamais saberão distinguir um dó de um ré, e que um ternário mal executado não as perturbará; elas não se abalarão por tão pouco. São monstros, e de casos teratológicos não nos ocupamos nesse momento; falamos do homem normalmente constituído. E Dizemos que com um mínimo de educação musical, ou mesmo sem nenhuma, o homem capaz de emoção estética não pode não experimentá-la ao escutar cantar o arrebatador Spiritus Domini de Pentecostes, ou o jubiloso Allelluia da Páscoa, ou o gradual, recolhido de início e bem grave, em seguida rebentando em alegria, Tecum principium, da Missa da Meia Noite. Ainda uma vez supomos que o ouvinte sabe grosso modo a que palavras a frase musical, melódica e rítmica, está ligada, qual é o lugar do trecho na liturgia católica; mas, isto sendo dado, pode-se, mais uma vez, ser muçulmano, budista ou agnóstico que, mesmo mediocremente dotado, reconhecerá a beleza; se é artista, quando mais o for, mais se encantará com tamanha perfeição artística.


Fazemos mal em dizer que, se a civilização não é apenas a abundância do útil, mas a abundância e a superabundância do honesto e do belo, a dissimulada intriga antilatina é um empreendimento de selvagens? Ora! Que se privem os homens de tanta beleza distribuída à profusão! Que despojem a Igreja da glória de ter sido inspiradora, de permanecer depositária e dispensadora inesgotável de tantas magnificências, tão próprias para elevar os homens quanto para uni-los nas admirações comuns! Que lhe retirem este testemunho brilhante de seu benefício para lá de sua esfera própria, este “extra” evangélico que, ademais, ainda lhe é próprio, pois ela não divide a honra com nenhuma outra instituição; que lhe deu títulos imortais ao reconhecimento universal; que pode mesmo atrair para si os mais nobres dentre os homens, sem lhe pedir nada em compensação, rigorosamente nada, senão a banalidade, a superficialidade, o mal gosto desenfreado, a baixeza de expressão verbal e musical! E este inimaginável rebaixamento proposto por aqueles que nos enchem os ouvidos da “apologética da porteira ”! Na verdade, é preciso não saber mais se envergonhar!



Seja tão selvagem quanto queira, nos dirão talvez, não importa, é preciso ser selvagem com os selvagens; É preciso ser bárbaro com os bárbaros. O que pensa ainda estar conservado, já está perdido. Ninguém mais sabe latim, o que, ademais, há séculos o povo comum cristão não sabe. E quanto ao valor artístico dos textos e cantos litúrgicos em latim, não é mais percebido pelos homens de cultura mediana, mas somente por especialistas, em prol dos quais não se pode, em matéria religiosa, conservar algo em detrimento da massa que se quer converter. Mais um pouco, vamos aos bárbaros e que pereça a liturgia em latim, desde que a Igreja seja dilatada.


Responderemos a estes sofismas, mostraremos sua inconsistência, mas o faremos mais facilmente quando tivermos considerado o emprego do latim na liturgia não como o fizemos aqui, segundo seu valor “civilizante”, mas segundo seu valor propriamente cristão. Este será o objeto de nosso próximo artigo.


(Pensée Catholique, n. 38, 1955. Tradução: PERMANÊNCIA)



Nota:

[1] [N. da P.] Observe-se que, no tempo em que saiu publicado este artigo, o estudo do latim era normativo tanto nas escolas européias — algumas das quais dedicavam ao latim não menos que nove anos de estudo — como nas brasileiras. Quantos serão os homens de cultura hoje, no Brasil, que ainda guardarão lembrança do latim?

A LÍNGUA LITÚRGICA DA IGREJA

por Francisco Spirago
I.A língua latina convém ao culto católico porque é venerável, misteriosa e invariável.


A língua latina é venerável pela sua antiguidade: era a que empregavam os cristãos dos primeiros séculos para celebrar os louvores de Deus[1]. «Sente-se comoção e entusiasmo quando se ouve oferecer o Santo Sacrifício na mesma língua e com as mesmas palavras de que se serviam os primeiros cristãos nas profundidades sombrias das catacumbas» — A língua latina é uma língua misteriosa, porque, como língua morta, o povo não a compreende. Empregando-a dá-se a entender que no altar se passa alguma coisa que se não pode compreender alguma coisa misteriosa. Nos primeiros séculos do cristianismo, o altar estava encoberto por um véu desde o Sanctus até à Comunhão. Este uso desapareceu, mas existe sempre um véu diante do altar: é a língua latina que o povo não compreende, e que nos torna os santos misteriosos veneráveis. — Finalmente por ser língua morta é invariável e significa com isto a imutabilidade da doutrina católica, que não muda, como não mudam as formas desta língua[2], — Além disso, convém notar que os Judeus e os Pagãos se serviam, no seu culto religioso, de uma língua que não era a língua vulgar. Entre os Judeus, por exemplo, empregava-se o antigo hebreu, que era língua dos Patriarcas. Jesus Cristo e os Apóstolos assistiram ainda ao ofício divino que se celebrava nessa língua e a história não nos diz que Jesus Cristo e os Apóstolos hajam censurado esse costume. — Na Índia, o sânscrito é a língua sagrada, e difere dos dialetos que usa povo. — Os Gregos, quer os não unidos quer os unidos. empregam nas suas igrejas o grego antigo, e não o grego moderno ou vulgar. — Até na Igreja russa se servem grego antigo, ao passo que o povo fala o eslavo. — igreja anglicana emprega o inglês antigo. Só os Romenos unidos se servem, com aprovação de Roma, da sua língua materna.

II. A língua latina no serviço divino é muito útil à Igreja:


contribui para manter a sua unidade e evita muitos inconvenientes. A língua latina serve para manter a unidade na Igreja; liga entre si, e com a Igreja-Mãe de Roma, as Igrejas espalhadas pelo universo, e assim preenche em parte o abismo que separa os diferentes povos da terra. «A língua latina da Igreja faz de todos os povos e de todas raças do mundo uma só família de Deus; o reino de Jesus Cristo. O altar é cópia da Jerusalém celeste, em que todos os anjos e os santos cantam com uma voz unânime os louvores de Deus». Se a língua latina não fosse língua oficial da Igreja, seria impossível haver, nos concílios, uma discussão comum entre os bispos, uma troca recíproca dos pensamentos e dos pareceres dos teólogos e doutores de tantos povos diversos. Que enorme prejuízo daí viria à Igreja! A língua latina, que vem de recorda-nos também que pertencemos à Igreja romana e que foi de Roma, Igreja-Mãe, que os missionários foram enviados às nossas terras a espalhar nelas a fé católica: ela é, pois, uma exortação contínua à unidade. — A língua latina evita muitos inconvenientes; como língua morta, não varia: o sentido das palavras permanece o mesmo através dos séculos, o que não se dá com as línguas vivas, que mudam muitas vezes no decurso dos séculos. Se a língua litúrgica fosse uma língua viva, facilmente nela se introduziriam heresias. Por outro lado o latim evita que homens grosseiros abusem, fora dos ofícios divinos, das palavras e orações sagradas para fazerem com elas audaciosos gracejos, ou que mofem das coisas santas. — A Igreja todavia não teve a mínima idéia de manter os fiéis na ignorância do significado das funções sagradas: pelo contrário, ela ordena aos seus sacerdotes que expliquem a missa e as suas cerimônias, tanto na escola às crianças como no púlpito aos adultos (Conc. Trid. XXII, 8). Além disso, não é necessário que povo conheça todas as cerimônias nos seus mais pequenos pormenores. “Se entre os ouvintes alguns há que não compreendem palavra por palavra o que se reza ou canta, sabem contudo que se reza e canta em louvor de Deus, e isto basta para excitar a piedade” [3] (S. Agostinho; Tomás de Aquino.), De mais, a experiência ensina que a língua latina não impede nada a piedade dos fiéis; com efeito as nossas igrejas, apesar desta língua, estão de ordinário tão cheias, que não bastam para conter os fiéis. — A Igreja também não tem a intenção de depreciar a língua nacional, porque a emprega com freqüência na pregação, na administração dos sacramentos, no confessionário, nas devoções da tarde, nas orações depois da missa, etc.; portanto, se se emprega a língua latina na missa, mais do que nas outras funções litúrgicas, é porque a missa é um sacrifício e não uma prédica ou uma instrução para o povo. De mais, o padre deve recitar em voz baixa a maior parte das orações da missa, e o povo não as ouviria, portanto, mesmo, se fossem ditas em língua vulgar. “Além de que o santo sacrifício da missa consiste mais nas ações do que nas palavras; as ações, as cerimônias, os movimentos, falam suficientemente por si mesmos uma linguagem compreensível» (S. Roberto Belarmino). — Se, como alguns desejam, se empregasse exclusivamente a língua vulgar no culto divino, os indivíduos de nacionalidade diferente tornavam-se como estranhos à sua religião. O emprego da língua nacional diminuiria até o respeito que se deve ter à missa, assim como o zelo de assistir a ela, como a experiência o demonstrou no tempo da Reforma, quando, para imitar os protestantes, se haviam traduzido fielmente as orações da missa. Aqueles que desejariam se empregasse a língua nacional no serviço divino, viriam, quando muito, uma vez à igreja por curiosidade, para de novo se afastarem dela, porque não é a língua latina o que eles detestam, são as verdades da religião, que lhes advertem que mudem de vida. “Essas pessoas deviam ocupar-se menos de corrigir as palavras da boca do que os sentimentos íntimos dos seus corações”


(Mons. Sailer)Extraído do Catecismo Católico Popular, de Francisco Spirago


[1] Se bem que é verdade ter o grego, sob este ponto de vista, maior dignidade: por isso a Igreja Católica usa ambos os idiomas: porém no ocidente emprega comumente o latim, mais semelhante às nossas línguas modernas.

[2] Deste modo favorece a sua conservação, com a mudança das .palavras, variam também pouco pouco os conceitos.

[3] Muitas vezes se dá o caso de pessoas pouco instruídas, que assistem a uma ópera italiana, nada perceberem do diálogo: mas basta-lhes para deleite entender em conjunto a ação e perceber a beleza da música. Assim também, o que não entende o latim. percebe todavia a solenidade do culto e entra em sentimentos de devoção

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Música do tempo de São Pio V

Palestrina - Sicut Cervus

terça-feira, 13 de novembro de 2007

TRA LE SOLLICITUDE


MOTU PROPRIOTRA LE SOLLICITUDEDO SUMO PONTÍFICEPIO X SOBRE A MÚSICA SACRA

INTRODUÇÃO


Entre os cuidados do ofício pastoral, não somente desta Suprema Cátedra, que por imperscrutável disposição da Providência, ainda que indigno, ocupamos, mas também de todas as Igrejas particulares, é, sem dúvida, um dos principais o de manter e promover o decoro da Casa de Deus, onde se celebram os augustos mistérios da religião e o povo cristão se reúne, para receber a graça dos Sacramentos, assistir ao Santo Sacrifício do altar, adorar o augustíssimo Sacramento do Corpo do Senhor e unir-se à oração comum da Igreja na celebração pública e solene dos ofícios litúrgicos.

Nada, pois, deve suceder no templo que perturbe ou, sequer, diminua a piedade e a devoção das fiéis, nada que dê justificado motivo de desgosto ou de escândalo, nada, sobretudo, que diretamente ofenda o decoro e a santidade das sacras funções e seja por isso indigno da Casa de Oração e da majestade de Deus.
Não nos ocupamos de cada um dos abusos que nesta matéria podem ocorrer. A nossa atenção dirige-se hoje para um dos mais comuns, dos mais difíceis de desarraigar e que às vezes se deve deplorar em lugares onde tudo o mais é digno de máximo encômio para beleza e suntuosidade do templo, esplendor e perfeita ordem das cerimônias, freqüência do clero, gravidade e piedade dos ministros do altar. Tal é o abuso em matéria de canto e Música Sacra. E de fato, quer pela natureza desta arte de si flutuante e variável, quer pela sucessiva alteração do gosto e dos hábitos no correr dos tempos, quer pelo funesto influxo que sobre a arte sacra exerce a arte profana e teatral, quer pelo prazer que a música diretamente produz e que nem sempre é fácil conter nos justos limites, quer, finalmente, pelos muitos preconceitos, que em tal assunto facilmente se insinuam e depois tenazmente se mantêm, ainda entre pessoas autorizadas e piedosas, há uma tendência contínua para desviar da reta norma, estabelecida em vista do fim para que a arte se admitiu ao serviço do culto, e expressa nos cânones eclesiásticos, nas ordenações dos Concílios gerais e provinciais, nas prescrições várias vezes emanadas das Sagradas Congregações Romanas e dos Sumos Pontífices Nossos Predecessores.

Com verdadeira satisfação da alma nos apraz recordar o muito bem que nesta parte se tem feito nos últimos decênios, também nesta nossa augusta cidade de Roma e em muitas Igrejas da Nossa pátria, mas em modo muito particular em algumas nações, onde homens egrégios e zelosos do culto de Deus, com aprovação desta Santa Sé e dos Bispos, se uniram em florescentes sociedades e reconduziram ao seu lugar de honra a Música Sacra em quase todas as suas Igrejas e Capelas. Este progresso está todavia ainda muito longe de ser comum a todos; e se consultarmos a nossa experiência pessoal e tivermos em conta as reiteradas queixas, que de todas as partes Nos chegaram neste pouco tempo decorrido, desde que aprouve ao Senhor elevar a Nossa humilde Pessoa à suprema culminância do Pontificado Romano, sem protrairmos por mais tempo, cremos que é nosso primeiro dever levantar a voz para reprovação e condenação de tudo que nas funções do culto e nos ofícios eclesiásticos se reconhece desconforme com a reta norma indicada.

Sendo de fato nosso vivíssimo desejo que o espírito cristão refloresça em tudo e se mantenha em todos os fiéis, é necessário prover antes de mais nada à santidade e dignidade do templo, onde os fiéis se reúnem precisamente para haurirem esse espírito da sua primária e indispensável fonte: a participação ativa nos sacrossantos mistérios e na oração pública e solene da Igreja. E debalde se espera que para isso desça sobre nós copiosa a bênção do Céu, quando o nosso obséquio ao Altíssimo, em vez de ascender em odor de suavidade, vai pelo contrário repor nas mãos do Senhor os flagelos, com que uma vez o Divino Redentor expulsou do templo os indignos profanadores. Portanto, para que ninguém doravante possa alegar a desculpa de não conhecer claramente o seu dever, e para que desapareça qualquer equívoco na interpretação de certas determinações anteriores, julgamos oportuno indicar com brevidade os princípios que regem a Música Sacra nas funções do culto e recolher num quadro geral as principais prescrições da Igreja contra os abusos mais comuns em tal matéria.

E por isso, de própria iniciativa e ciência certa, publicamos a Nossa presente instrução; será ela como que um código jurídico de Música Sacra; e, em virtude da plenitude de Nossa Autoridade Apostólica, queremos que se lhe dê força de lei, impondo a todos, por este Nosso quirógrafo, a sua mais escrupulosa observância.

I. Princípios gerais

1. A música sacra, como parte integrante da Liturgia solene, participa do seu fim geral, que é a glória de Deus e a santificação dos fiéis. A música concorre para aumentar o decoro e esplendor das sagradas cerimônias; e, assim como o seu ofício principal é revestir de adequadas melodias o texto litúrgico proposto à consideração dos fiéis, assim o seu fim próprio é acrescentar mais eficácia ao mesmo texto, a fim de que por tal meio se excitem mais facilmente os fiéis à piedade e se preparem melhor para receber os frutos da graça, próprios da celebração dos sagrados mistérios.

2. Por isso a música sacra deve possuir, em grau eminente, as qualidades próprias da liturgia, e nomeadamente a santidade e a delicadeza das formas, donde resulta espontaneamente outra característica, a universalidade.
Deve ser santa, e por isso excluir todo o profano não só em si mesma, mas também no modo como é desempenhada pelos executantes.
Deve ser arte verdadeira, não sendo possível que, doutra forma, exerça no ânimo dos ouvintes aquela eficácia que a Igreja se propõe obter ao admitir na sua liturgia a arte dos sons. Mas seja, ao mesmo tempo, universal no sentido de que, embora seja permitido a cada nação admitir nas composições religiosas aquelas formas particulares, que em certo modo constituem o caráter específico da sua música própria, estas devem ser de tal maneira subordinadas aos caracteres gerais da música sacra que ninguém doutra nação, ao ouvi-las, sinta uma impressão desagradável.

II. Gêneros de Música Sacra

3. Estas qualidades se encontram em grau sumo no canto gregoriano, que é por conseqüência o canto próprio da Igreja Romana, o único que ela herdou dos antigos Padres, que conservou cuidadosamente no decurso dos séculos em seus códigos litúrgicos e que, como seu, propõe diretamente aos fiéis, o qual estudos recentíssimos restituíram à sua integridade e pureza.

Por tais motivos, o canto gregoriano foi sempre considerado como o modelo supremo da música sacra, podendo com razão estabelecer-se a seguinte lei geral: uma composição religiosa será tanto mais sacra e litúrgica quanto mais se aproxima no andamento, inspiração e sabor da melodia gregoriana, e será tanto menos digna do templo quanto mais se afastar daquele modelo supremo.

O canto gregoriano deverá, pois, restabelecer-se amplamente nas funções do culto, sendo certo que uma função eclesiástica nada perde da sua solenidade, mesmo quando não é acompanhada senão da música gregoriana.
Procure-se nomeadamente restabelecer o canto gregoriano no uso do povo, para que os fiéis tomem de novo parte mais ativa nos ofícios litúrgicos, como se fazia antigamente.

4. As sobreditas qualidades verificam-se também na polifonia clássica, especialmente na da Escola Romana, que no século XVI atingiu a sua maior perfeição com as obras de Pedro Luís de Palestrina, e que continuou depois a produzir composições de excelente qualidade musical e litúrgica. A polifonia clássica, aproximando-se do modelo de toda a música sacra, que é o canto gregoriano, mereceu por esse motivo ser admitida, juntamente com o canto gregoriano, nas funções mais solenes da Igreja, quais são as da Capela Pontifícia. Por isso também essa deverá restabelecer-se nas funções eclesiásticas, principalmente nas mais insignes basílicas, nas igrejas catedrais, nas dos Seminários e outros institutos eclesiásticos, onde não costumam faltar os meios necessários.

5. A Igreja tem reconhecido e favorecido sempre o progresso das artes, admitindo ao serviço do culto o que o gênio encontrou de bom e belo através dos séculos, salvas sempre as leis litúrgicas. Por isso é que a música mais moderna é também admitida na Igreja, visto que apresenta composições de tal qualidade, seriedade e gravidade que não são de forma alguma indigna das funções litúrgicas.
Todavia, como a música moderna foi inventada principalmente para uso profano, deverá vigiar-se com maior cuidado por que as composições musicais de estilo moderno, que se admitem na Igreja, não tenham coisa alguma de profana, não tenham reminiscências de motivos teatrais, e não sejam compostas, mesmo nas suas formas externas, sobre o andamento das composições profanas.

6. Entre os vários gêneros de música moderna, o que parece menos próprio para acompanhar as funções do culto é o que tem ressaibos de estilo teatral, que durante o século XVI esteve tanto em voga, sobretudo na Itália. Este, por sua natureza, apresenta a máxima oposição ao canto gregoriano e à clássica polifonia, por isso mesmo às leis mais importantes de toda a boa música sacra. Além disso, a íntima estrutura, o ritmo e o chamado convencionalismo de tal estilo não se adaptam bem às exigências da verdadeira música litúrgica.

III. Texto Litúrgico

7. A língua própria da Igreja Romana é a latina. Por isso é proibido cantar em língua vulgar, nas funções litúrgicas solenes, seja o que for, e muito particularmente, tratando-se das partes variáveis ou comuns da Missa e do Ofício.

8. Estando determinados, para cada função litúrgica, os textos que hão de musicar-se e a ordem por que se devem cantar, não é lícito alterar esta ordem, nem substituir os textos prescritos por outros, nem omiti-los na íntegra ou em parte, a não ser que as Rubricas litúrgicas permitam suprir, com órgão, alguns versículos do texto, que são simplesmente recitados no coro. É permitido somente, segundo o costume romano, cantar um motete em honra do S. Sacramento depois do Benedictus da Missa solene. Permite-se outrossim que, depois de cantado o ofertório prescrito, se possa executar, no tempo que resta, um breve motete sobre palavras aprovadas pela Igreja.

9. O texto litúrgico tem de ser cantado como se encontra nos livros aprovados, sem posposição ou alteração das palavras, sem repetições indevidas, sem deslocar as silabas, sempre de modo inteligível.

IV. Forma externa das composições sacras

10. As várias artes da Missa e Ofício devem conservar, até musicalmente, a forma que a tradição eclesiástica lhes deu, e que se encontra admiravelmente expressada no canto gregoriano. É, pois, diverso o modo de compor um Intróito, um Gradual, uma Antífona, um Salmo, um Hino, um Glória in excelsis, etc.

11. Observem-se, em particular, as normas seguintes:

a) O Kyrie, o Glória, o Credo, etc., da Missa, devem conservar a unidade de composição própria do texto. Por conseguinte, não é lícito compô-las como peças separadas, de modo que, cada uma destas forme uma composição musical tão completa que possa separar-se das restantes e ser substituída por outra.

b) No ofício de Vésperas deve seguir-se, ordinariamente, a norma do Caeremoniale Episcoporum que prescreve o canto gregoriano para a salmodia, e permite a música figurada nos versículos do Gloria Patri e no hino.
Contudo, é permitido, nas maiores solenidades, alternar o canto gregoriano do coro com os chamados "falsibordoni" ou com versos de modo semelhante convenientemente compostos. Poderá também conceder-se, uma vez por outra, que cada um dos salmos seja totalmente musicado, contanto que, em tais composições, se conserve a forma própria da salmodia, isto é, que os cantores pareçam salmodiar entre si, já com motivos musicais novos, já com motivos tirados do canto gregoriano, ou imitados deste.

Ficam proibidos, nas cerimônias litúrgicas, os salmos de concerto.

c) Conserve-se, nas músicas da Igreja, a forma tradicional do hino. Não é permitido compor, por exemplo, o Tantum ergo de modo que a primeira estrofe apresente a forma de romanza, cavatina ou adágio e o Genitori a de allegro.
d) As antífonas de Vésperas têm de ser cantadas, ordinariamente, com a melodia gregoriana que lhes é própria. Porém, se em algum caso particular se cantarem em música, não deverão nunca ter a forma de melodia de concerto, nem a amplitude dum motete ou de cantata.

V. Os cantores

12. Excetuadas as melodias próprias do celebrante e dos ministros, que sempre devem ser em gregoriano, sem acompanhamento de órgão, todo o restante canto litúrgico faz parte do coro dos levitas. Por isso, os cantores, ainda que leigos, realizam, propriamente, as funções de coro eclesiástico, devendo as músicas, ao menos na sua maior parte, conservar o caráter de música de coro.
Não se entende com isto excluir, de todo, os solos; mas estes não devem nunca predominar de tal maneira que a maior parte do texto litúrgico seja assim executada; deve antes ter o caráter de uma simples frase melódica e estar intimamente ligada ao resto da composição coral.

13. Os cantores têm na Igreja um verdadeiro ofício litúrgico e, por isso, as mulheres sendo incapazes de tal ofício, não podem ser admitidas a fazer parte do coro ou da capela musical. Querendo-se, pois, ter vozes agudas de sopranos e contraltos, empreguem-se os meninos, segundo o uso antiquíssimo da Igreja.

14. Finalmente, não se admitam a fazer parte da capela musical senão homens de conhecida piedade e probidade de vida, os quais, com a sua devota e modesta atitude, durante as funções litúrgicas, se mostrem dignos do santo ofício que exercem. Será, além disso, conveniente que os cantores, enquanto cantam na igreja, vistam hábito eclesiástico e sobrepeliz e que, se o coro estiver muito exposto à vista do público, seja resguardado por grades.

VI. Órgão e Instrumentos

15. Posto que a música própria da Igreja é a música meramente vocal, contudo também se permite a música com acompanhamento de órgão. Nalgum caso particular, com as convenientes cautelas, poderão admitir-se outros instrumentos nunca sem o consentimento especial do Ordinário, conforme as prescrições do Caeremoniale Episcoporum.

16. Como o canto tem de ouvir-se sempre, o órgão e os instrumentos devem simplesmente sustentá-lo, e nunca encobri-lo.

17. Não é permitido antepor ao canto extensos prelúdios, ou interrompê-lo com peças de interlúdios.

18. O som do órgão, nos acompanhamentos do canto, nos prelúdios, interlúdios e outras passagens semelhantes, não só deve ser de harmonia com a própria natureza de tal instrumento, isto é, grave, mas deve ainda participar de todas as qualidades que tem a verdadeira música sacra, acima mencionadas.

19. É proibido, na Igreja, o uso do piano bem como o de instrumentos fragorosos, o tambor, o bombo, os pratos, as campainhas e semelhantes.

20. É rigorosamente proibido que as bandas musicais toquem nas igrejas, e só em algum caso particular, com o consentimento do Ordinário, será permitida uma escolha limitada, judiciosa e proporcionada ao ambiente de instrumentos de sopro, contanto que a composição seja em estilo grave, conveniente e semelhante em tudo às do órgão.

21. Nas procissões, fora da igreja, pode o Ordinário permitir a banda musical, uma vez que não se executem composições profanas. Seria para desejar que a banda se restringisse a acompanhar algum cântico espiritual, em latim ou vulgar, proposto pelos cantores ou pias congregações que tomam parte na procissão.

VII. Amplitude da Música Sacra

22. Não é licito, por motivo do canto, fazer esperar o sacerdote no altar mais tempo do que exige a cerimônia litúrgica. Segundo as prescrições eclesiásticas, o Sanctus deve ser cantado antes da elevação, devendo o celebrante esperar que o canto termine, para fazer a elevação. A música da Glória e do Credo, segundo a tradição gregoriana, deve ser relativamente breve.

23. É condenável, como abuso gravíssimo, que nas funções eclesiásticas a liturgia esteja dependente da música, quando é certo que a música é que é parte da liturgia e sua humilde serva.

VIII. Meios principais

24. Para o exato cumprimento de quanto fica estabelecido, os Bispos, se ainda não o fizeram, instituam, nas suas dioceses, uma comissão especial de pessoas verdadeiramente competentes na música sacra, à qual confiarão o cargo de vigiar as músicas que se vão executando em suas igrejas para que sejam conformes com estas determinações. Nem atender somente a que sejam boas as músicas, senão também a que correspondam ao valor dos cantores, para haver boa execução.

25. Nos Seminários e nos Institutos eclesiásticos, segundo as prescrições tridentinas, consagrem-se todos os alunos ao estudo do canto gregoriano e os superiores sejam liberais em animar e louvar os seus súditos. Igualmente, onde for possível, promova-se entre os clérigos a fundação de uma Schola Cantorum para a execução da sagrada polifonia e da boa música litúrgica.

26. Nas lições ordinárias de Liturgia, Moral e Direito Canônico, que se dão aos estudantes de teologia, não se deixe de tocar naqueles pontos que, de modo mais particular, dizem respeito aos princípios e leis da música sacra, e procure-se completar a doutrina com alguma instrução especial acerca da estética da arte sacra, para que os clérigos não saiam dos seminários ignorando estas noções, tão necessária à plena cultura eclesiástica.

27. Tenha-se o cuidado de restabelecer, ao menos nas igrejas principais, as antigas Scholae Cantorum, como se há feito já, com ótimo fruto, em muitos lugares. Não é difícil, ao clero zeloso, instituir tais Scholae, mesmo nas igrejas de menor importância, e até encontrará nelas um meio fácil para reunir em volta de si os meninos e os adultos, com proveito para eles e edificação do povo.

28. Procure-se sustentar e promover, do melhor modo, as escolas superiores de música sacra, onde já existem, e concorrer para as fundar, onde as não há. É sumamente importante que a mesma igreja atenda à instrução dos seus mestres de música, organistas e cantores, segundo os verdadeiros princípios da arte sacra.

IX Conclusão

29. Por último, recomenda-se aos mestres de capela, aos cantores, aos clérigos, aos superiores dos Seminários, Institutos eclesiásticos e comunidades religiosas, aos párocos e reitores de igrejas, aos cônegos das colegiadas e catedrais, e sobretudo aos Ordinários diocesanos, que favoreçam, com todo o zelo, estas reformas de há muito desejadas e por todos unanimemente pedidas, para que não caia em desprezo a autoridade da Igreja que repetidamente as propôs e agora de novo as inculca.

Dado em o Nosso Palácio do Vaticano, na festa da Virgem e Mártir Santa Cecília, 22 de novembro de 1903, primeiro ano do nosso pontificado.

PAPA PIO X


domingo, 11 de novembro de 2007

A verdade sobre a Comunhão na mão

"Por respeito para com este Sacramento, nada Lhe toca, a não ser o que é Consagrado..." S. Tomás de Aquino".

por John Vennari

Através dos séculos, de pais para filhos, foram os nossos pais que nos ensinaram a Fé e nos falaram do Santíssimo Sacramento. Disseram-nos que a Divina Eucaristia é verdadeiramente o Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo. Os Padres do Concílio de Trento definiram o Santíssimo Sacramento com precisão e cuidado. S. Tomás de Aquino ensinou-nos que, por respeito para com este Sacramento, tocar n’Ele e ministrá-Lo compete apenas ao Sacerdote. Em casa, os nossos pais, como católicos que eram, e também as Irmãs que ensinavam na escola disseram-nos que era um sacrilégio uma pessoa, sem ser o sacerdote, tocar na Sagrada Hóstia.
Através dos séculos, Papas, bispos e sacerdotes disseram-nos a mesma coisa, não tanto por palavras, mas sobretudo pelo exemplo — e especialmente através da celebração da Antiga Missa em latim, em que o mais profundo respeito pelo Santíssimo Sacramento, o autêntico Corpo de Cristo, estava em cada gesto do Sacerdote. Os nossos pais disseram-nos estas coisas não com a ideia de transmitir uma tradição, venerável mas sem fundamento; ensinaram-nos estas coisas através de palavras e exemplos para nos mostrarem a fidelidade à Fé Católica e o respeito pelo Santíssimo Sacramento. Os nossos pais disseram-nos isto porque é a verdade.
Pelo contrário, a entrada em vigor da Comunhão na mão e de leigos como Ministros da Eucaristia mostra um desprezo arrogante por aquilo que os nossos pais nos ensinaram. E embora estas práticas tivessem sido introduzidas com o pretexto de serem um desenvolvimento litúrgico "autêntico" e ordenado pelo Concílio Vaticano II, a verdade é que a Comunhão na mão não é uma autêntica evolução litúrgica, não foi ordenada pelo Vaticano II, e não só aparece como um desafio como revela um completo desprezo por séculos de doutrina e prática católicas até hoje.
A Comunhão na mão estabeleceu-se sob um falso ecumenismo; permitiram que se espalhasse por fraqueza da autoridade; foi aprovada como medida de compromisso e por um falso sentido de tolerância – e levou a uma profunda irreverência e indiferença para com o Santíssimo Sacramento. Esse abuso litúrgico – que se tornou o mais comum possível – é a vergonha dos nossos tempos.


O Vaticano II não a menciona em parte alguma

Nos dezasseis documentos do Concílio Vaticano II não há qualquer referência à Comunhão na mão, que também não foi mencionada durante os debates conciliares.
Antes do Concílio Vaticano II, não há registos históricos de bispos, padres ou leigos terem pedido a prática da Comunhão na mão. Pelo contrário, qualquer pessoa que viveu a Igreja de antes do Vaticano II se há-de lembrar distintamente de ter aprendido que era sacrílego tocar na Hóstia Consagrada quem não fosse Sacerdote.
Confirma-o o ensinamento de S. Tomás de Aquino, na sua grande Summa Theologica. Nas suas palavras:
"A distribuição do Corpo de Cristo pertence ao sacerdote por três razões.

"Primeira, porque consagra na pessoa de Cristo. E assim como Cristo consagrou o Seu Corpo na (Última) Ceia e O deu também a partilhar aos outros, do mesmo modo tal como a consagração do Corpo de Cristo pertence ao sacerdote, assim também a Sua distribuição lhe pertence.



"Segunda, porque o sacerdote foi nomeado intermediário entre Deus e o povo. Portanto, assim como lhe compete oferecer a Deus as oferendas do povo, assim também lhe compete entregar ao povo as oferendas consagradas.



"Terceira, porque, por respeito para com este Sacramento, nada Lhe toca a não ser o que é consagrado; eis porque o corporal e o cálice são consagrados, e da mesma maneira as mãos do sacerdote, para que toquem este Sacramento. E assim, não é licito que qualquer outra pessoa Lhe toque, excepto em caso de necessidade, por exemplo, se caísse ao chão ou em qualquer outro caso de urgência." (ST, III, Q.82, Art. 13)



S. Tomás, príncipe dos Teólogos da Igreja Católica e um gigante comparado com todos os outros, cuja Summa Theologica foi colocada no altar ao lado das Escrituras durante o Concílio de Trento e cuja doutrina S. Pio X considerava ser o remédio para o Modernismo... é este S. Tomás que ensina claramente que compete ao sacerdote, e só a ele, tocar e ministrar a Sagrada Hóstia, e que "só o que é consagrado" (as mãos do sacerdote) "devem tocar o Consagrado" (a Hóstia Sagrada).




‘Note-se a reverência e o Amor por Jesus Cristo no Santíssimo Sacramento, e o costume antigo de colocar uma toalha de linho, branca e pura, por sobre as mãos dos comungantes’.


A afirmação de que a Comunhão na mão era praticada na Igreja primitiva é controversa. Há quem diga que foi praticada até ao Século VI, citando até uma passagem de S. Cirilo para substanciar esta asserção. Outros afirmam que nunca foi um costume católico; antes que, se a Comunhão na mão foi praticada de forma limitada nos primeiros tempos da Igreja, foi institucionalizada e espalhada pelos Arianos como sinal da sua descrença na Divindade de Jesus Cristo. Esta mesma escola de pensamento afirma também que aquela citação de S. Cirilo é pouco segura, apócrifa e de origem ariana. Seja como for, é evidente que a Comunhão na língua é de origem apostólica (ou seja, ensinada pelo próprio Cristo), que a Comunhão na mão foi condenada como abuso no Sínodo de Rouen de 650 d.C., e que a prática da Comunhão na mão nunca se reflectiu na arte de qualquer período, tanto no Oriente como no Ocidente... isto é, até depois do Concílio Vaticano II.


A Santa Missa Tradicional incorpora em si o respeito pela Eucaristia


Esta doutrina – de que apenas os sacerdotes podem tocar na Hóstia Consagrada, que as mãos do sacerdote são consagradas para este fim, e que nenhuma precaução era exagerada quando se tratava de conservar a reverência e impedir a profanação – foi incorporada na Liturgia da Igreja, isto é, na Antiga Missa em latim.


No tempo da Antiga Missa em latim, os padres aprendiam a celebrar Missa segundo rubricas precisas que asseguravam o devido respeito pelo Santíssimo Sacramento. Estas rubricas meticulosas eram como que "talhadas em pedra" e sobre elas não era concedida opção: no Rito Romano, todos os sacerdotes deviam segui-las com uma precisão imutável. Na Igreja de antes do Vaticano II, quando a Missa Tridentina em latim era de norma, estas rubricas eram não só ensinadas como também incutidas nos homens que se preparavam para ser padres.


Eis algumas dessas rubricas, na Antiga Missa em latim:


A partir do momento em que o Sacerdote pronuncia as palavras da Consagração sobre a Sagrada Hóstia, mantém juntos os dedos indicador e polegar, de modo que, ao elevar o cálice, ao virar as páginas do Missal ou ao abrir o sacrário, aqueles dedos não toquem senão a Hóstia Consagrada. Note-se também que era impensável deixar a Sagrada Hóstia no altar, e ir igreja abaixo, igreja acima (mesmo antes de os dedos terem sido purificados) apertar as mãos das pessoas, numa desajeitada manifestação de amizade forçada.


No final da Missa, o sacerdote passa com a patena sobre o corporal e limpa-o para dentro do cálice, a fim de que pudesse ser recolhida e consumida reverentemente a mais pequena Partícula, se aí tivesse ficado.


Depois da Comunhão, as mãos do sacerdote são lavadas sobre o cálice com água e vinho – consumidos com reverência, como garante de que nem a Partícula mais pequena seja susceptível de profanação.


Estas são apenas algumas das rubricas incorporadas na Antiga Missa. Não eram escrúpulos ridículos; mostravam que a Igreja acreditava firmemente que, na Missa, o pão e o vinho se convertem realmente no Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, e que nada do que se fizesse era demais para haver a certeza de que Nosso Senhor seria tratado no Santíssimo Sacramento com toda a reverência e homenagem que a Majestade Divina merece.


Ora bem, tratando-se de demonstrar reverência, será possível melhorar estas rubricas? Uma autêntica renovação católica deixaria intactos tais gestos de reverência, ou iria realçá-los. Mas obliterá-los sem uma desculpa nem um argumento convincente, como foi o caso nos últimos 30 anos com a entrada em vigor da Nova Missa, não caracteriza uma autêntica renovação católica; pelo contrário, assemelha-se ao Novo Paganismo (contra o qual Belloc nos avisou) com o seu arrogante desprezo pela tradição.


E para tornar a situação ainda pior, a prática da Comunhão na mão faz com que estas rubricas cruciais do pré-Vaticano II pareçam de um sentimentalismo supersticioso, sem fundamento na realidade — desprezo, mais uma vez, pelo que os nossos pais nos ensinaram, e desprezo óbvio pelo próprio Santíssimo Sacramento.


-Como é que apareceu agora a Comunhão na Mão?


Há 400 anos, a Comunhão na mão foi introduzida no culto "cristão" por homens cujos motivos tinham por base um desafio ao Catolicismo. Os revolucionários protestantes do Século XVI (chamados "reformadores" protestantes, numa cortesia imerecida) estabeleceram a Comunhão na mão para significar duas coisas:


1) Que acreditavam que não havia "transsubstanciação" nenhuma, e que o pão usado para a Comunhão não passava de pão vulgar. Por outras palavras, a Presença Real de Cristo na Eucaristia não passava de uma "superstição papista"; e como o pão não era mais do que pão, qualquer pessoa lhe podia tocar.


2) Que era sua crença que o ministro da Comunhão não era fundamentalmente diferente de qualquer leigo. Ora é ensinamento católico que o Sacramento da Ordem dá ao Sacerdote um poder espiritual, sacramental, imprime uma marca indelével na sua alma e fá-lo fundamentalmente diferente de um leigo. O Ministro Protestante, porém, não é mais do que um homem vulgar que introduz os cânticos, faz as leituras e prega sermões para excitar as convicções dos crentes. Não pode converter o pão e o vinho no Corpo e Sangue de Nosso Senhor, não pode abençoar, não pode perdoar os pecados. Não pode fazer nada que um leigo normal não possa fazer.


O estabelecimento da Comunhão na mão pelos Protestantes foi o modo que eles escolheram para mostrar a sua rejeição da crença na Presença Real de Cristo na Eucaristia e a rejeição do Sacerdócio Sacramental — em resumo, para mostrar a sua rejeição do Catolicismo no seu todo.


Daí por diante, a Comunhão na mão passou a ter um significado nitidamente anti-católico: prática abertamente anti-católica, tinha por base a descrença na Presença Real de Cristo e também no Ministério Sacerdotal. Portanto, como a imitação é a forma mais sincera de lisonjear, não será bom perguntar por que razão os nossos eclesiásticos modernos imitam os infiéis auto-proclamados, que rejeitam a doutrina sacramental básica do Catolicismo? Eis uma pergunta a que os eclesiásticos intoxicados pelo espírito liberal do Vaticano II ainda não responderam satisfatoriamente.


Graças ao Ecumenismo...


Embora a Comunhão na mão não fosse ordenada pelo Concílio Vaticano II, o que foi "canonizado" pelo Vaticano II foi o "Ecumenismo" — um falso espírito de uma falsa unidade, que até então tinha sido condenado pela Igreja, em especial pelo Papa Pio XI na sua encíclica de 1928 Mortalium Animos —, esse movimento de Católicos que se querem mais comprometidos em relação às outras religiões e, em especial, aos Protestantes.


Este movimento realça, supostamente, aquilo que temos em comum com os outros credos e oculta o que nos divide, para celebrar os "valores" que partilhamos. ("Valores" é um termo subjectivo que não se encontra nos manuais de Teologia de antes do Concílio Vaticano II).


Já não tentamos converter os não-Católicos. Em vez disso, passamos o tempo num "diálogo" inútil e sem fim, em que o Catolicismo acaba sempre por perder: porque um tal diálogo dá a impressão incontornável de que o Catolicismo já não acredita que é o único possuidor da Verdade teológica.


Embora não tratemos do Ecumenismo neste artigo (veja-se "The Problem with Modern Ecumenism", em Catholic Family News — número de Março de 1995), basta dizer que este novo espírito ecuménico, a que Deitrich von Hildebrand chamou "ECUMANIA", se tornou notório durante e depois do Vaticano II. O espírito ecuménico tornou-se o princípio formativo mais importante na série das novas formas litúrgicas estabelecidas desde o Concílio. É por isso que a nova liturgia se parece tanto com um serviço protestante.


Um ecuménico espírito de imitação


Na Holanda, depois do Vaticano II, alguns padres de ideias ecuménicas começaram a dar a Comunhão na mão, numa imitação servil da prática protestante. Quanto aos bispos, em vez de cumprirem com o seu dever e condenarem o abuso, toleraram-no.


Porque os responsáveis da Igreja permitiram que o abuso não fosse atalhado, a prática espalhou-se então pela Alemanha, Bélgica e França. Mas se os bispos pareciam indiferentes a este escândalo, os leigos sentiram-se ultrajados. Foi a indignação de grande número de Fiéis que obrigou o Papa Paulo VI a tomar medidas: tendo consultado os bispos do mundo sobre o assunto, estes votaram, na sua esmagadora maioria, no sentido de manter a prática tradicional de receber a Sagrada Comunhão apenas na língua. E note-se que, nesta altura, o abuso estava limitado a alguns países europeus. Ainda não tinha sequer começado nos Estados Unidos.


"Memoriale Domine"


O Papa promulgou então a Instrução Memoriale Domine, de 28 de Maio de 1969. Em resumo, o documento declara:


1) Os bispos do mundo eram, na sua esmagadora maioria, contra a Comunhão na mão.


2) "Esta maneira de distribuir a Sagrada Comunhão (isto é, o sacerdote colocar a Hóstia na língua dos comungantes) deve ser observada."


3) A Comunhão na língua não diminui, de forma alguma, a dignidade do comungante.


4) E acrescenta o aviso de que "qualquer inovação pode levar à irreverência e à profanação da Eucaristia, assim como à erosão gradual da recta doutrina."


O documento afirma ainda que "o Sumo Pontífice decretou que a maneira tradicional de dar a Sagrada Comunhão aos Fiéis não devia ser mudada. Por conseguinte, a Sé Apostólica insta veementemente os bispos, sacerdotes e povo a que observem zelosamente esta lei."


Luz vermelha e luz verde ao mesmo tempo


Podemos perguntar, então: se esta Instrução foi promulgada, por que razão é tão comum ver-se a Comunhão na mão? Podemos explicá-lo servindo-nos do caso da reacção dos bispos canadianos à Humanae Vitae – Encíclica que reafirmava, com toda a verdade, a doutrina da Igreja sobre a contracepção. Como houve, logo que a Humanae Vitae saiu, uma escandalosa vaga de oposição, por parte tanto de padres católicos como de intelectuais, os bispos canadianos escreveram uma carta pastoral apoiando a teoria expressa na Humanae Vitae, mas usando nesse documento a curiosa expressão "normas para dissenção lícita".


Ora esta frase dá a impressão de que podia haver uma base para os Católicos rejeitarem legitimamente a Humanae Vitae. Assim, quer tivessem consciência disso quer não, os bispos sabotaram a sua própria carta pastoral, dando ao mesmo tempo luz vermelha e luz verde à rejeição da Encíclica Papal. Por isso não foi surpresa alguma quando grande número de Católicos rejeitou a Humanae Vitae com base na solução de compromisso dos bispos canadianos. Até os pais mais incultos têm a inteligência de não dar aos filhos a opção de aceitar ou de rejeitar as ordens paternas. Fazê-lo seria sinal evidente de falta de autoridade. Pois bem: infelizmente, foi precisamente isso o que aconteceu com o documento de 1969 – a Encíclica Memoriale Domine – que supostamente era contra a Comunhão na mão.


Mas estava-se na era do compromisso, e o documento continha a semente da sua própria destruição: logo de seguida, a Instrução dizia que, onde o abuso já se tivesse estabelecido firmemente, poderia ser legalizado por maioria de dois terços numa votação secreta da conferência nacional dos bispos (desde que a Santa Sé confirmasse a sua decisão). Isto operou logo a favor dos liberais. E note-se que a Instrução dizia "onde tal abuso já se tivesse estabelecido firmemente". Portanto, os países onde a prática ainda não se tivesse desenvolvido ficaram, obviamente, excluídos dessa concessão — e nessa categoria estavam incluídos todos os países de língua inglesa, inclusive os Estados Unidos.


Como era natural, o clero liberal de outros países (do nosso também - EUA) concluiu que, se esta rebelião podia ser legalizada na Holanda, podia ser legalizada em qualquer parte. Calcularam que, se ignorassem o Memoriale Domine e desafiassem a lei litúrgica da Igreja, essa rebelião não só seria tolerada como eventualmente legalizada. Foi exactamente isto o que aconteceu; e é por isso que hoje temos a Comunhão na mão.


Começada para desafiar, perpetuada para enganar


Como se não bastasse a Comunhão na mão ter começado na desobediência, perpetuou-se através de dolo. Não dispomos de espaço para dar todos os pormenores; mas a propaganda que, na década de 1970, foi usada para apregoar a Comunhão na mão junto de um povo confiante e vulnerável foi uma campanha de meias-verdades calculadas que não contavam toda a história. Encontramos rapidamente um exemplo nos escritos de Monsenhor Champlin. Os seus escritos:


dão ao leitor a falsa impressão de que o Vaticano II deu ordem para o abuso, quando, na realidade, não é sequer mencionado em nenhum documento do Concílio;


não dizem ao leitor que essa prática foi começada por alguns membros do clero em desafio à a lei litúrgica estabelecida, mas apresentam-na como se ela fosse a resposta a um pedido dos leigos;


não dizem com clareza ao leitor que os bispos do mundo, quando consultados, votaram por esmagadora maioria contra a Comunhão na mão;


não mencionam que essa autorização devia ser apenas uma tolerância do abuso onde ele já se tinha estabelecido em 1969. Não era, portanto, uma luz verde para tal abuso alastrar a outros países, como os Estados Unidos.


Para o Clero, não é matéria de "opção"!


Chegámos agora ao ponto em que a Comunhão na mão é considerada uma forma superior de receber a Eucaristia, e em que a grande maioria das nossas crianças está a aprender incorrectamente a receber a Primeira Comunhão na mão. Dizem aos Fiéis que é uma prática opcional, e que, se não gostarem dela, podem comungar na língua.


A tragédia de tudo isto é que, se é opcional para os leigos, na prática não é opcional para o clero.


Os padres estão a ser instruídos falsamente no sentido de que, concordando ou não, devem dar a Comunhão na mão a quem o pedir, lançando desta maneira muitos bons sacerdotes na agonia de uma crise de consciência.


Depois do Concílio Vaticano II, um Arcebispo de grande saber observou com inteligência que o golpe de mestre de satanás foi espalhar a desobediência à tradição católica através da obediência.


É evidente que nenhum padre pode ser legalmente forçado a dar a Comunhão na mão; e devemos rezar para que mais padres tenham a coragem de guardar o respeito devido a este Sacramento, não se deixando ‘apanhar’ por uma falsa obediência que os leva a colaborar na degradação de Cristo na Eucaristia. Devem ganhar coragem para se oporem a esta prática nova, e lembrar-se de que até o Papa Paulo VI, apesar das suas fraquezas, predisse correctamente que a Comunhão na mão levaria à irreverência e à profanação da Eucaristia, bem como a uma erosão gradual da recta doutrina — profecia esta que vimos realizar-se. E se a oposição dos padres à Comunhão na mão devia ser aguerrida e firme, a sua oposição aos "Ministros Extraordinários" devia ser ainda mais determinada.


"Ministros Extraordinários"


No seu livro de sucesso, The Last Roman Catholic? [O Último Católico Romano?], James W. Demers escreveu: "De entre os responsáveis pela falta de beleza na Igreja, ninguém tem mais culpa que os ministros leigos de hoje. O comportamento despropositado destes leigos superficialmente elucidados leva ao santuário uma pomposidade que é embaraçosa e faz entristecer ."


Ainda há uns 35 anos, tal como nos séculos anteriores, a distribuição da Sagrada Comunhão por leigos durante a Missa era, com toda a justiça, considerada um acto impensável de sacrilégio e irreverência. Mas agora é vulgar haver leigos a distribuir o Santíssimo Sacramento em qualquer igreja paroquial da Novus Ordo, e a maior parte dos Católicos nem presta atenção a isso — o que prova que uma pessoa a tudo se habitua, até à profanação.


Parece que nem se sabe de onde tais "ministros" vieram. Mas, de repente, lá estavam eles! E onde chegavam, era para ficar! Mas, pensando bem, também nós ficámos parados vendo desenvolver-se aos poucos, perante os nossos olhos, as raízes desta praga de mãos não consagradas, nomeadas por pastores para degradar a Eucaristia, usurpar o dever dos Ordenados, minar o Sacerdócio, e despojar o Altar de Deus dos seus sagrados direitos.


O Bispo Sheen escreveu certa vez que tanto homens como mulheres são escravos da moda, mas com esta diferença: se as mulheres são escravas das modas de vestir, os homens são escravos das modas de pensar. E a moda do pós-Vaticano II, orgulho e alegria de muitos eclesiásticos que davam como pretexto tornar a Igreja mais "relevante", foi a ideia do envolvimento dos leigos na liturgia.


Os leigos começaram a ler a Epístola e os novos salmos responsoriais. Encarregaram-se das monótonas "Orações dos Fiéis" – "Oremos, Senhor – Ouvi-nos, Senhor", e até nos saudavam ao microfone antes da Missa — desejando-nos um "bom dia", dizendo-nos os cânticos que iriam cantar e qual era a Oração Eucarística que apeteceu ao Padre escolher para a ocasião.


O santuário tornou-se um palco, onde um monólogo semanal e uma só pessoa já não chegavam. Quanto maior o elenco, melhor; e o drama intenso da Missa tornou-se um espectáculo de amadores. O Padre – um homem que tinha sido chamado por Deus e que tinha sido conduzido especificamente para o estudo e a divulgação dos sagrados mistérios – teve que dar lugar (de boa vontade ou com relutância) a diletantes não qualificados, deslocados, intrometendo-se em part-time para invadirem e profanarem o seu domínio sagrado do Santuário e do Altar.


Mas o facto de os leigos se encarregarem das leituras durante a Nova Missa não era o único passo necessário. Não seria possível haver ministros leigos do Santíssimo Sacramento sem a revolução nas rubricas que o precederam, a prática, largamente aceite, de leigos distribuirem a Divina Eucaristia nas mãos. O cargo de Ministro da Eucaristia é, pois, fruto ilegítimo da união do "envolvimento dos leigos" da Nova Liturgia e da Comunhão na mão, que coabitam na Igreja moderna. É filho da revolução da década de 1960.


Todos querem ter o seu papel!


É um facto que muitos Católicos desejavam fazer parte desta "elite de leigos" que distribuem a Sagrada Comunhão; mas também houve Católicos cujo senso comum se opôs inicialmente a esta prática, mas que lá se deixaram convencer por clérigos persuasivos. É que a maior táctica usada pelo clero moderno é recorrer à lisonja... Chegam junto dos bons Católicos e dizem-lhes: "É um bom paroquiano, Cristão exemplar, bom pai (ou mãe) de família, e por isso queremos dar-lhe a ‘honra’ de ser ministro da Eucaristia."


E o que fizeram eles? Pegaram na distribuição do Corpo de Cristo, algo de tão Sagrado que só pertence ao sacerdote, e fizeram dela um prémio infantil por bom comportamento: como um emblema de mérito dado a um escuteiro porque nadou uma milha ou montou uma tenda, ou como uma estrela colada na testa de uma menina da 3.ª classe por ser a única da turma a escrever correctamente "Checoslováquia".



Se é de joelhos que os Anjos acorrem para adorar Nosso Senhor, quanto mais eu que sou pecador.

A prática foi disfarçada como uma recompensa que os bons e humildes da paróquia aceitaram relutantemente, e a que depois se habituaram; ou tornou-se um cargo cobiçado pelos orgulhosos e enfatuados da paróquia que, ao aceitarem, se mostram incapazes de reconhecer que se trata de um prestígio falso e mesquinho.

"Ministro Extraordinário" ou"Ministro Eucarístico"?

Os termos "ministro leigo" e "ministro da Eucaristia" têm sido usados até aqui de forma bastante imprecisa, porque esta é a terminologia que se encontra muitas vezes nos boletins paroquiais. Mas a verdade é que não existe a expressão de "ministro da Eucaristia"; a expressão correcta é "Ministro Extraordinário".

Tratando-se dos Sacramentos, "Ministro Extraordinário" é uma terminologia clássica. Por exemplo: no Rito Romano, o "ministro ordinário" da Confirmação é o bispo; e o "ministro extraordinário" será o sacerdote especificamente delegado pelo bispo, em circunstâncias extraordinárias. Portanto, se as palavras têm algum significado, como notou Michael Davies, um ministro extraordinário devia ser, de facto, "extraordinário". Só raramente veríamos um; e, na realidade, muitos Católicos passariam toda a sua vida sem alguma vez terem visto um ministro extraordinário. Mas hoje não há nada de extraordinário nos ministros extraordinários. São tão vulgares e corriqueiros na Igreja moderna como os ‘missalettes’ e os cestos das oferendas. Isto é, sem sombra de dúvida, um abuso calculado da terminologia clássica católica, usado para introduzir na Nova Missa uma novidade que não tem fundamento na história da Igreja ou na prática católica.

Em 29 de Janeiro de 1973, a Sagrada Congregação do Culto Divino emitiu uma Instrução, chamada Immensae Caritatis, que autorizava a entrada em vigor dos Ministros Extraordinários da Eucaristia. Este documento não dá um indulto revolucionário para toda e qualquer paróquia permitir que os leigos dêem a Comunhão; autoriza, sim, o uso de Ministros Extraordinários em "casos de autêntica necessidade", que são os seguintes:


Quando não houver sacerdote, diácono ou acólito.

Quando estes estiverem impedidos de dar a Sagrada Comunhão por algum outro ministério pastoral, ou por causa de doença ou idade avançada.

Quando o número dos Fiéis que pedem a Sagrada Comunhão é tão grande que a celebração da Missa ou a distribuição da Eucaristia fora da Missa seria prolongada indevidamente.

A Instrução estipula que: "Como estas faculdades são apenas concedidas para o bem espiritual dos Fiéis e em casos de autêntica necessidade, os Sacerdotes devem lembrar-se de que não ficam assim escusados do encargo de distribuir a Eucaristia aos Fiéis que legitimamente a pedirem e, especialmente, de a levarem e ministrarem aos doentes."

Ora, em primeiro lugar, questionar o bom senso do documento não é um acto de deslealdade ou desobediência, especialmente quando esta permissão é uma revolução contra todas as rubricas de antes do Vaticano II e que existiram durante séculos — rubricas que existiam para manifestar respeito e evitar alguma profanação, e que eram do mais elementar senso comum católico. Mas mesmo tomando o documento à letra, é difícil imaginar circunstâncias que justifiquem o uso de Ministros Extraordinários fora das terras de missão. Os "Ministros da Eucaristia" de hoje actuam, na realidade, contra as normas existentes do Vaticano.

A era da ambiguidade

Usámos a expressão "tomando à letra" porque, como alguns leitores mais atentos já terão notado, o documento que acabámos de citar foi redigido de forma imprecisa. Trazia em si aquela ambiguidade, imprecisão e elasticidade que caracterizou muitos dos documentos do Concílio Vaticano II e do pós-Vaticano II.

Embora não haja provas concludentes de que a redacção imprecisa da Immensae Caritatis fosse feita de propósito, há muitas provas de que a ambiguidade dos documentos do Vaticano II foi deliberada. O Padre Edward Schillebeeckx, teólogo liberal influente no Vaticano II, admitiu que dar uma ambiguidade deliberada aos documentos do Concílio foi uma estratégia fundamental dos progressistas. Nas suas palavras: "Usámos frases ambíguas durante o Concílio e nós (os teólogos liberais) bem sabemos como depois as havemos de interpretar."

A ambiguidade principal, que provavelmente deu origem à actual proliferação de Ministros Extraordinários, era a justificação do seu uso se a Missa fosse (algo que cabia na expressão) "prolongada indevidamente". Mas será que "prolongada indevidamente" se refere a 5 minutos ou a 45 minutos? Depende de quem interpreta. E em Instruções desta natureza, a falta de precisão dá lugar a uma interpretação lata, e esta dá lugar a que se estabeleça um abuso com a aparência de fidelidade aos regulamentos da Igreja. E a partir do momento em que uma moda como a dos "Ministros Extraordinários" se espalha por todo o lado – e toda a gente a segue só porque é o que toda a gente faz –, quem é que vai prestar alguma atenção às directivas existentes? É um precedente que se vê constantemente na Igreja moderna: "Violemos a lei, e no fim teremos a violação aceite como um costume local."

Fracassa a intervenção do Papa

Este abuso ilegal ficou tão bem estabelecido como costume local que até o Papa João Paulo II – que fez, pelo menos, uma tentativa no papel para limitar tal abuso – falhou por completo. Na sua carta Dominicae Cenae de 24 de Fevereiro de 1980, o Papa recordou a doutrina da Igreja de que "tocar as Sagradas Espécies e ministrá-las com as suas próprias mãos é um privilégio dos Ordenados." Mas por uma qualquer razão, este documento de 1980 não fazia impender sanção alguma sobre um leigo, padre ou bispo que ignorasse o que o Papa dissera. Ora uma lei sem sanção não é uma lei, é uma sugestão apenas. E esta carta do Papa João Paulo II, já com 23 anos [em 2003], foi recebida pela Hierarquia e pelo clero dos países do Ocidente como uma sugestão que não era benvinda e a que, por isso, não se prestou atenção.

Em 21 de Setembro de 1987, o Cardeal Prefeito da Congregação dos Sacramentos enviou, pelas vias usuais, uma carta sobre os Ministros Extraordinários a várias Conferências Episcopais, incluindo a dos bispos americanos. Em suma: as cartas (que se podem encontrar no livro de Michael Davies Privilege of the Ordained [Privilégio dos que receberam a Ordenação]) diziam que Roma recebera muitas queixas de abusos referentes aos Ministros Extraordinários. Como resultado, a Comissão Pontifícia decidiu oficialmente que "quando os Ministros Ordinários (bispos, padres) estão presentes na Eucaristia, quer celebrando quer não, e são em número suficiente e não estão impedidos de o fazer por outros ministérios, os Ministros Extraordinários da Eucaristia não estão autorizados a distribuir a Comunhão, nem a eles próprios nem aos Fiéis."

Esta decisão foi também completamente ignorada, como serão todas as demais, desde que haja nos regulamentos uma concessão para este abuso. Resta-nos rezar para que os responsáveis da Igreja acabem finalmente por compreender que, quando se trata do Santíssimo Sacramento, não se reforma um abuso, aniquila-se. E para não se fazer continuamente o jogo manipulativo do Novo Paganismo do Modernismo, uma condenação completa, formal e sem ambiguidades tanto da Comunhão na mão como dos Ministros Extraordinários é, para os nossos responsáveis, a única opção verdadeira de um Católico.

O sentido do Sagrado

Os Sacramentos são o tesouro mais precioso da Igreja, e a Divina Eucaristia é o maior de todos os Sacramentos. Porque em todos os outros Sacramentos recebemos a graça sacramental, mas na Divina Eucaristia recebemos o próprio Cristo. Portanto, como é óbvio que o Santíssimo Sacramento é o maior tesouro que a Igreja possui, deve ser tratado com toda a reverência e homenagem que merece. Deste modo, todas as barreiras anteriores ao Concílio Vaticano II para evitar profanações são indispensáveis à vida da Igreja e à santidade dos Fiéis.

Quantas vezes ouvimos, até aos responsáveis pela nossa Igreja, lamentar o facto de que "perdemos o sentido do Sagrado"? Esta exclamação é das mais assombrosas que um Eclesiástico pode fazer! Como se fosse algum mistério… É que o sentido do Sagrado não se perdeu, sabemos exactamente onde está, e podia ser recuperado em todas as igrejas paroquiais do mundo, amanhã mesmo. O "sentido do Sagrado" encontra-se onde quer que se dê a maior importância à prática da salvaguarda da reverência pelo Santíssimo Sacramento. E mais: o "sentido do Sagrado" nem sequer se perdeu; foi deliberadamente posto de lado, foi mandado embora pelos agentes do Novo Paganismo do Modernismo – cheios de arrogância e fazendo-se passar por reformadores católicos – que introduziram na Igreja novas práticas que diminuem a Eucaristia, desprezam a tradição e aquilo que os nossos antepassados nos ensinaram, e que levaram a uma crise mundial da Fé de uma amplitude sem precedentes.

Mas para nós, graças a Deus, não é mistério nenhum. Sabemos exactamente onde se encontra "o sentido do Sagrado", e agarramo-lo com uma tenacidade aguerrida. Encontra-se na celebração da Antiga Missa Tridentina em Latim, na qual cada momento da Liturgia contém uma reverência profunda pelo Santíssimo Sacramento, e onde os olhos dos Católicos ainda vêem com horror a Comunhão na mão e os "Ministros Eucarísticos" – práticas claramente reconhecidas como despropositadas, sacrílegas e não-católicas, que é, afinal, aquilo que são.