sábado, 1 de dezembro de 2007

A LÍNGUA LITÚRGICA DA IGREJA

por Francisco Spirago
I.A língua latina convém ao culto católico porque é venerável, misteriosa e invariável.


A língua latina é venerável pela sua antiguidade: era a que empregavam os cristãos dos primeiros séculos para celebrar os louvores de Deus[1]. «Sente-se comoção e entusiasmo quando se ouve oferecer o Santo Sacrifício na mesma língua e com as mesmas palavras de que se serviam os primeiros cristãos nas profundidades sombrias das catacumbas» — A língua latina é uma língua misteriosa, porque, como língua morta, o povo não a compreende. Empregando-a dá-se a entender que no altar se passa alguma coisa que se não pode compreender alguma coisa misteriosa. Nos primeiros séculos do cristianismo, o altar estava encoberto por um véu desde o Sanctus até à Comunhão. Este uso desapareceu, mas existe sempre um véu diante do altar: é a língua latina que o povo não compreende, e que nos torna os santos misteriosos veneráveis. — Finalmente por ser língua morta é invariável e significa com isto a imutabilidade da doutrina católica, que não muda, como não mudam as formas desta língua[2], — Além disso, convém notar que os Judeus e os Pagãos se serviam, no seu culto religioso, de uma língua que não era a língua vulgar. Entre os Judeus, por exemplo, empregava-se o antigo hebreu, que era língua dos Patriarcas. Jesus Cristo e os Apóstolos assistiram ainda ao ofício divino que se celebrava nessa língua e a história não nos diz que Jesus Cristo e os Apóstolos hajam censurado esse costume. — Na Índia, o sânscrito é a língua sagrada, e difere dos dialetos que usa povo. — Os Gregos, quer os não unidos quer os unidos. empregam nas suas igrejas o grego antigo, e não o grego moderno ou vulgar. — Até na Igreja russa se servem grego antigo, ao passo que o povo fala o eslavo. — igreja anglicana emprega o inglês antigo. Só os Romenos unidos se servem, com aprovação de Roma, da sua língua materna.

II. A língua latina no serviço divino é muito útil à Igreja:


contribui para manter a sua unidade e evita muitos inconvenientes. A língua latina serve para manter a unidade na Igreja; liga entre si, e com a Igreja-Mãe de Roma, as Igrejas espalhadas pelo universo, e assim preenche em parte o abismo que separa os diferentes povos da terra. «A língua latina da Igreja faz de todos os povos e de todas raças do mundo uma só família de Deus; o reino de Jesus Cristo. O altar é cópia da Jerusalém celeste, em que todos os anjos e os santos cantam com uma voz unânime os louvores de Deus». Se a língua latina não fosse língua oficial da Igreja, seria impossível haver, nos concílios, uma discussão comum entre os bispos, uma troca recíproca dos pensamentos e dos pareceres dos teólogos e doutores de tantos povos diversos. Que enorme prejuízo daí viria à Igreja! A língua latina, que vem de recorda-nos também que pertencemos à Igreja romana e que foi de Roma, Igreja-Mãe, que os missionários foram enviados às nossas terras a espalhar nelas a fé católica: ela é, pois, uma exortação contínua à unidade. — A língua latina evita muitos inconvenientes; como língua morta, não varia: o sentido das palavras permanece o mesmo através dos séculos, o que não se dá com as línguas vivas, que mudam muitas vezes no decurso dos séculos. Se a língua litúrgica fosse uma língua viva, facilmente nela se introduziriam heresias. Por outro lado o latim evita que homens grosseiros abusem, fora dos ofícios divinos, das palavras e orações sagradas para fazerem com elas audaciosos gracejos, ou que mofem das coisas santas. — A Igreja todavia não teve a mínima idéia de manter os fiéis na ignorância do significado das funções sagradas: pelo contrário, ela ordena aos seus sacerdotes que expliquem a missa e as suas cerimônias, tanto na escola às crianças como no púlpito aos adultos (Conc. Trid. XXII, 8). Além disso, não é necessário que povo conheça todas as cerimônias nos seus mais pequenos pormenores. “Se entre os ouvintes alguns há que não compreendem palavra por palavra o que se reza ou canta, sabem contudo que se reza e canta em louvor de Deus, e isto basta para excitar a piedade” [3] (S. Agostinho; Tomás de Aquino.), De mais, a experiência ensina que a língua latina não impede nada a piedade dos fiéis; com efeito as nossas igrejas, apesar desta língua, estão de ordinário tão cheias, que não bastam para conter os fiéis. — A Igreja também não tem a intenção de depreciar a língua nacional, porque a emprega com freqüência na pregação, na administração dos sacramentos, no confessionário, nas devoções da tarde, nas orações depois da missa, etc.; portanto, se se emprega a língua latina na missa, mais do que nas outras funções litúrgicas, é porque a missa é um sacrifício e não uma prédica ou uma instrução para o povo. De mais, o padre deve recitar em voz baixa a maior parte das orações da missa, e o povo não as ouviria, portanto, mesmo, se fossem ditas em língua vulgar. “Além de que o santo sacrifício da missa consiste mais nas ações do que nas palavras; as ações, as cerimônias, os movimentos, falam suficientemente por si mesmos uma linguagem compreensível» (S. Roberto Belarmino). — Se, como alguns desejam, se empregasse exclusivamente a língua vulgar no culto divino, os indivíduos de nacionalidade diferente tornavam-se como estranhos à sua religião. O emprego da língua nacional diminuiria até o respeito que se deve ter à missa, assim como o zelo de assistir a ela, como a experiência o demonstrou no tempo da Reforma, quando, para imitar os protestantes, se haviam traduzido fielmente as orações da missa. Aqueles que desejariam se empregasse a língua nacional no serviço divino, viriam, quando muito, uma vez à igreja por curiosidade, para de novo se afastarem dela, porque não é a língua latina o que eles detestam, são as verdades da religião, que lhes advertem que mudem de vida. “Essas pessoas deviam ocupar-se menos de corrigir as palavras da boca do que os sentimentos íntimos dos seus corações”


(Mons. Sailer)Extraído do Catecismo Católico Popular, de Francisco Spirago


[1] Se bem que é verdade ter o grego, sob este ponto de vista, maior dignidade: por isso a Igreja Católica usa ambos os idiomas: porém no ocidente emprega comumente o latim, mais semelhante às nossas línguas modernas.

[2] Deste modo favorece a sua conservação, com a mudança das .palavras, variam também pouco pouco os conceitos.

[3] Muitas vezes se dá o caso de pessoas pouco instruídas, que assistem a uma ópera italiana, nada perceberem do diálogo: mas basta-lhes para deleite entender em conjunto a ação e perceber a beleza da música. Assim também, o que não entende o latim. percebe todavia a solenidade do culto e entra em sentimentos de devoção

Nenhum comentário: